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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

CORINGA - joker

de Isloany Machado
**Alerta de (MUITO) spoiler**
Todos os que acompanham minhas resenhas de filme sabem que não está entre minhas preferências os de super-heróis. Primeiro por sempre ser algo muito surreal, segundo, e por isso mesmo, meu raciocínio não conseguir acompanhar todo o enredo, terceiro porque, não acompanhando, minha memória não funciona para que eu possa assistir as continuações. Pois bem, já assisti vários do Batman e sabia da existência do Coringa, mas então hoje fui ao cinema pela segunda vez assistir sobre sua história (eu nunca fui ao cinema duas vezes para ver o mesmo filme).
Logo no começo, primeira cena, Arthur Fleck está se pintando de palhaço, um sorriso forjado com os dedos e uma lágrima descendo pelo rosto. Não se trata daquela famosa lágrima desenhada, é uma real, que desce discretamente. Ele trabalha para uma empresa que “fornece" palhaços para eventos em geral. São tempos de violência gratuita, da banalidade do mal (salve Hannah Arendt), e Arthur é espancado por um grupo de meninos na rua. O motivo: porque querem lhe roubar a placa(?); porque só querem sacaneá-lo mesmo(?); sabe-se lá o que explica o prazer em causar dano gratuitamente ao outro. Ele leva uma bronca do patrão porque o cliente se queixou de seu sumiço, ao passo que ganha uma 38 do colega de trabalho.
Corta para a conversa com a assistente social que o "atende", e a pergunta de Arthur é: "É impressão minha ou o mundo está ficando mais maluco?”.
Arthur veio ao mundo sob a seguinte sentença: "aquele que nasceu para fazer rir e trazer alegria”. Sua mãe o chama de "Feliz”. O local onde trabalha se chama Haha’s e seu slogan é "coloque um sorriso nessa cara”. Há um imperativo à felicidade, à alegria, ao riso indispensável, a que Arthur obedece, tanto se tornando palhaço, como sonhando em ser comediante, mas, sobretudo, colocando o imperativo no real com seus ataques de riso a que ele chama de distúrbio neurológico. E todos perguntam, quando acontece: “do que você está rindo, idiota? Não tem graça". São tentativas de cumprir o destino do dizer da mãe, agora uma senhora que é cuidada (alimentação, banho, etc) por Arthur, desde cedo “o homem da casa”. Ambos vivem uma loucura a dois, para ficar mais chique, folie à deux. A mãe vive repetidamente questionando por que Thomas Wayne não responde suas cartas. Ele, um homem importante, quer se candidatar a prefeito (sim! o pai do Batman!), ela, uma mulher que trabalhou na casa dos Wayne há trinta anos.
Vamos para o segundo momento em que Arthur está de novo como um objeto a ser batido, espancado, gratuitamente. Ele acaba de ser demitido porque a arma cai de sua perna no meio de uma apresentação num hospital infantil. "É um adereço, faz parte do show", mas seu chefe não acredita e o demite aos berros, por telefone. No metrô, três babacas, os típicos cidadãos de bem de Gotham (nada que lembre nossos cidadãos de bem por aqui) estão assediando uma moça e Arthur começa a gargalhar. Não tem graça, nunca tem. Os três homens começam a espancá-lo e ele reage matando os três a tiros. É difícil admitir isso, mas a gente torce e sente um alívio quando ele consegue se levantar do espancamento brutal e mata os três. Talvez isso seja material para a polêmica em torno do filme, de que incitaria à violência. Mas me parece que a arte imita a vida mais do que o contrário, e se sentimos um certo gozo na cena, é porque podemos fantasiar ao invés de ir ao ato (salve a arte!). Depois disso, ele corre, aturdido e entra num banheiro público. Lá se desenrola uma dança que parece quase involuntária, quase tanto quanto seu riso. Uma cena que me fez arrepiar inteira e eu queria abraçar aquele ator por ter escolhido ser ator e fazer aquilo tão bem. O assassinato no metrô causa rebuliço em Gotham e o candidato a prefeito e empresário Wayne (o entojado) diz: “o problema dessas pessoas que fazem esse tipo de coisa é que não suportam as pessoas bem-sucedidas como nós, já que eles continuam sendo meros palhaços”. Arthur ouve esta fala que está sendo transmitida na televisão. Wayne é chamado a dizer algo, pois os três rapazes eram funcionários de sua empresa.
Em seu caderninho de piadas para o show de stand-up comedy que está preparando, escreve: "A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você aja como se não tivesse uma”. Na conversa com a assistente social, ela sempre lhe faz as mesmas perguntas e ele diz: “Você não escuta o que eu digo. Sempre pergunta como eu me sinto, se tenho pensamentos ruins. Eu sempre tenho pensamentos ruins. Sempre me senti como se não existisse. Você não me ouve". E parece que não ouve mesmo. Ao fim deste encontro, ela lhe dá a notícia de que a verba do programa de saúde foi cortado e, portanto, é o último atendimento. “E como vou conseguir meus remédios?". A pergunta cai no vazio.
A mãe de Arthur pede a ele que poste mais uma carta para Wayne. Ele decide abrir a maldita carta para saber o que tanto esta mulher tem a dizer. Ela pede ajuda: “somente você pode ajudar a mim e a seu filho". Estarrecido, aos berros, Arthur quer saber se aquilo é verdade. A mãe diz que na juventude, quando ela trabalhava na casa dele, se apaixonaram, mas ele achou melhor não ficarem juntos por questões sociais e que a fez assinar uns papéis. E nós ficamos sem saber se é delírio (eu ia dizer “se é verdade ou delírio”, mas um delírio não é uma verdade?). Pois Arthur vai até Wayne, que nega a paternidade e ainda diz que sua mãe é uma louca, que o adotou quando ainda trabalhava para sua família, mas que foi internada num sanatório depois. Decidido a saber de sua verdade (tanto quanto o pobre Édipo que acaba vendo justo aquilo que mais temia enxergar), vai ao sanatório e descobre que sua mãe foi diagnosticada como psicótica, que tinha um filho adotivo (ele) a quem deixava sofrer maus tratos por parte de seus namorados. Nessa cena, tudo acontece muito rápido e as questões que ficam são: a mulher era realmente louca? Ela adotou mesmo o menino ou foi obrigada a assinar papéis falsos segundo a versão da poderosa família Wayne? Se acaso não era louca, ela ficou a partir dali, a ponto de permitir que seu filho sofresse abusos físicos: “Eu nunca o ouvi chorar, ele sempre foi um garotinho tão feliz".
Ser feliz é o imperativo do Outro materno a quem Arthur está absolutamente alienado, sem corte, sem castração, foracluído. Uma psicose não tem como causa as mazelas sociais, ainda que a maneira como a loucura é tratada (ainda) seja um grave problema social, sim. Estando fora do discurso, Arthur se coloca fora da lei e, para romper com o imperativo da mãe, precisa matá-la no real. Enquanto um “neurotiquinho" qualquer passaria anos em análise, deitado no divã, matando o Outro aos poucos, Arthur faz uma passagem ao ato e diz, enquanto a sufoca com o travesseiro: “É muito difícil tentar ser feliz o tempo inteiro. Eu nunca fui feliz nesta minha vida desgraçada. Lembra quando você dizia que meu riso era um distúrbio? Eu descobri que não é, eu sou assim mesmo". Édipo mata o pai sem saber que é seu pai. Arthur mata a mãe porque sabe (o saber psicótico é intransitivo).
Para saber o desfecho (mais do que já abri meu bocão) vocês precisarão ir ao cinema, até porque minhas palavras não conseguem transmitir o impacto que o filme causa. Não relatam sobre a atuação do Joaquin Phoenix (CASA COMIGO, JOAQUIN??). Tenho para mim que ele ganhará o Oscar de melhor ator.

Isloany Machado
 é psicóloga clínica, psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Fórum do Campo Lacaniano de MS. Revisora de textos na Oficina do Texto. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Dispensadora da ciência e costuradora de palavras por opção. Autora dos livros “Costurando Palavras: contos e crônicas crônicas” (2012); “Em defesa dos avessos humanos” e do romance “Nau dos amoucos” (2017). É a mãe do Adriano.


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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Lykke-Per - UM HOMEM DE SORTE

(com spoiler)
de Isloany Machado
Um amigo* me recomendou o filme Um homem de sorte (disponível na Netflix, dirigido por Bille August) e eu, vasculhando minhas anotações, resolvi que assistiria ontem. Baseado no livro “Lykke-Per”, do autor dinamarquês Henrik Pontoppidan, o filme conta a história de Peter Andreas Sidenius, um jovem de família cristã, que decide romper com a linhagem clerical e seguir seu sonho de ir para Copenhague cursar engenharia. A primeira cena do filme mostra Peter recebendo a notícia de sua aprovação na faculdade. Em seguida, frustrado com a escolha do filho, o pai faz uma oração em família pedindo a deus que mantenha o rapaz perto de seus ensinamentos, uma fala toda baseada na culpa e ameaça da fúria divina. Mas quem está furioso é Peter, que quer se libertar de sua origem religiosa tão pobre e austera. Numa discussão, o pai o amaldiçoa após o rapaz dizer que sempre se sentiu um "exilado e sem-teto" naquela casa: "Exilado seja aquele que desafia o Senhor!”. É uma cena carregada de muito ódio entre pai e filho.
Na partida, o vento da liberdade lhe tocando o rosto durante a viagem de trem (é um filme de época). Na faculdade, uma ideia obstinada: encontrar outras formas de obter energia elétrica (recursos naturais: água e vento) que não dependam do uso do carvão. Uma constante: o ódio a tudo que remete ao pai e ao cristianismo. Peter, que é muito pobre, conhece uma família de ricos judeus, fica de olho na filha mais nova, mas acaba flertando com a mais velha depois que ouve o irmão dela dizer que, por ser primogênita, a herança é maior. Isso nos dá uma visão do quanto Peter, ou Per, como passam a chamá-lo, é um homem ambicioso.
Jakobe, a filha mais velha da família judia, é muito inteligente e está noiva, mas se apaixona pelo jovem gênio e rompe o noivado. Quando ele passa um tempo na Áustria, ela lhe escreve cartas apaixonadas, às quais ele não responde. A moça chega a ir encontrá-lo e passam uns dias juntos, tempos depois ele regressa e oficializam o noivado (Jakobe está grávida, mas não diz nada a ele porque quer lhe fazer uma surpresa). Nesse meio tempo, o pai de Per morre, e a mãe vem morar na mesma cidade que ele (Copenhague) porque quer ficar perto do filho mais velho, irmão de Per que também é clérigo, como o pai.
O futuro sogro tem bons contatos e coloca Per para falar diretamente com um homem do governo, um ministro, que poderia autorizar a execução de seu projeto de energia hidrelétrica e eólica, mas quando este homem, um ex-militar de idade avançada, corrige sua postura: “Endireite as costas!", o ódio flui na expressão facial de Per e tudo está Per-dido. Ambos se insultam, o jovem o chama de velho louco e mais. Um tempo depois, o sogro organiza um consórcio de pessoas ricas que estão a fim de financiar a execução do projeto, mas ainda assim dependeriam da aprovação do tal ministro. Per recusa-se, cara-a-cara com o homem, a pedir perdão a ele por tê-lo insultado, e diz que quem lhe deve pedido de desculpa é o ministro. Mais uma vez: tudo Per-dido.
A mãe de Per morre e seu corpo será transladado de navio para o interior, de onde vieram. O irmão não poderá acompanhar o féretro (ó, falei difícil!) por motivos de trabalhos oficiais e pede a Per que o faça. Ele se recusa, mas, de última hora, decide ir. Reencontrar-se com suas “raízes", o lugar onde sempre morou e que o remetia a toda culpa cristã, à austeridade do pai, etc, logo depois de ter fracassado em seu projeto de vida, faz uma reviravolta na cabeça de Per. Chega a ter uma terrível crise de angústia e questiona o vigário que enterrou sua mãe: "será que é por causa da maldição de meu pai?". Volta para Copenhague, rompe o noivado com Jakobe que, devastada, faz um aborto discretamente em outra cidade. Tempos depois ela decide abrir uma escola para crianças carentes, longe da lógica cristã da culpabilização e do ódio, pois diz ter visto de perto o que a austeridade é capaz de fazer com uma pessoa.
Completamente perturbado e em dívidas com a família dela, volta para o interior, se casa com a filha do vigário e tem com ela três filhos. Anos depois está abençoando o filho mais velho, conferindo se as orelhas estão limpas, mandando que endireite as costas. A esposa lhe pede: “não seja tão duro com ele". Na comemoração de aniversário desse filho, Per se vê como sempre: um exilado. E então foge também dessa mulher e, inclusive de sua posição de pai, para viver sozinho no meio do nada, onde reencontrou-se com suas raízes a partir da própria solidão.
O filme não é uma lição de moral sobre a importância da humildade, como o pai de Per tanto queria fazê-lo engolir goela abaixo. É sobre a quase impossibilidade que temos de romper com aquilo que somos, com a alienação ao Outro. A obstinação e genialidade de Per o levam para longe do pai, mas as raízes do ódio estão tão fincadas nele que o fazem perder qualquer chance de realizar seu sonho. Por ódio ele se move para longe do pai e pelo mesmo ódio, torna-se algo bem parecido com ele. Os caminhos da pulsão nos levam a percorrer sempre as mesmas veredas em busca de um objeto que não existe. E sobre o amor, Per foi amado pelas mulheres, mas não sei se amou alguma delas. Ele, que se movia pelo ódio, talvez não soubesse o que era o amor, talvez não soubesse uma forma diferente de amar que não fosse odiando.
Extra 1: O nome do filme, "Um homem de sorte”, tem a ver com os ricos judeus dizerem que Per era um homem afortunado por sua genialidade.
Extra 2: Já mais velho e adoecido por um câncer, Per faz contato com Jakobe. Ela vai até ele, que a chamou porque quer lhe dar todo o dinheiro que conseguiu juntar na vida para que ela aplique na escola. Ele pergunta: “eu a magoei muito?”, ao que ela responde: “Eu não mudaria nada na minha vida. Foi por ter conhecido você que pude ser quem eu sou". Talvez Jakobe tenha amado sozinha, mas, como disse Lacan, “quem ama nunca está sozinho". Encontros assim são raros, da ordem do milagre, como também diria Lacan, ou, "são mais difíceis do que ganhar na mega sena", como diria minha analista.
(* Fui eu, Henrique, esse amigo...rs.)

Isloany Machado é psicóloga clínica, psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Fórum do Campo Lacaniano de MS. Revisora de textos na Oficina do Texto. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Dispensadora da ciência e costuradora de palavras por opção. Autora dos livros “Costurando Palavras: contos e crônicas crônicas” (2012); “Em defesa dos avessos humanos” e do romance “Nau dos amoucos” (2017). É a mãe do Adriano.
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

QUE HORAS ELA VOLTA?

de Isloany Machado
**Alerta de spoiler**
Quantas pessoas precisaram me dizer para assistir esse filme antes que eu pudesse fazê-lo? Em uma escolha (quase) ao acaso, Que horas ela volta? me fez chorar. 
Em essência, o filme diz sobre o não-lugar, o não-pertencer, conta sobre as diferenças estabelecidas entre as classes sociais. Regina Casé (sim, aquela do Esquenta!) faz a personagem principal, uma empregada doméstica que deixou o nordeste e foi para São Paulo ganhar a vida, trabalhar para sustentar a filha de dez anos que deixou por lá, sob os cuidados de outra pessoa. Mora num quartinho na casa dos patrões, faz trabalhos domésticos e cuida de Fabinho, da mesma idade de sua filha. 
Empregada não come à mesa junto com os patrões, não usa a piscina, mesmo sendo "quase da família", como diz Dona Bárbara, a patroa. A paz de todos é abalada quando Jéssica, a filha da empregada, decide ir para São Paulo para prestar o vestibular de arquitetura na FAU-USP. O que a mãe tem de subserviente, a filha tem de corajosa, dedicada e estudiosa. Além disso, Jéssica não se coloca em momento algum como inferior às pessoas da casa, o que faz com que sua mãe a tome por "sem-noção", abusada. Ela conversa com os patrões de sua mãe em pé de igualdade, fala de arte e arquitetura. Questiona a subserviência da mãe, se exaspera quando descobre que ela nunca entrou na piscina. 
A patroa, Bárbara, passa a não suportar sua presença, e o ápice do mal-estar é representado pelo pedido dela de que a piscina fosse esvaziada após Jéssica ter entrado junto com seu filho, o Fabinho, com a desculpa de que "um rato" havia sido encontrado. É, sim, para os burgueses é melhor uma piscina vazia do que "cheia de ratos". Jéssica vai embora depois que a patroa da mãe proíbe sua livre circulação pela casa. Até que consigam um lugar para morar juntas, Val permanece na casa dos patrões. Jéssica passa na primeira fase do vestibular, Fabinho não. Pela primeira vez, tomada de alegria e orgulho da filha, Val entra na piscina (cuja água está pelo joelho), num ato de insubordinação, e liga para a moça, dizendo de seu orgulho. A cena é tão linda que me fez chorar.
Para além de uma crítica social das diferenças de classes, o que mais me tocou foi o deslocamento das maternidades. Val deixa a filha pequena no nordeste, nas mãos de outra pessoa. Bárbara, a patroa sempre ausente, deixa Fabinho nas mãos de Val e ambos estabelecem de fato uma relação mãe-filho. Val somente consegue se desvincular dele e de seu emprego quando, fracassado no vestibular, Fabinho vai para um intercâmbio na Austrália. Ao mesmo tempo, descobre que Jéssica tem também um filho que deixou no nordeste (haja repetição), Jorge (elas não se falavam há mais de três anos, por isso não sabia). Assim, Val, que só pôde ser mãe de Fabinho, ou seria seu Falinho(?), o substitui por Jorge, o neto. Não são abandonos maternos, mas deslocamentos.
O que me doeu pessoalmente foi a impossibilidade dessa mulher em ser mãe da menina, mas isso é problema meu (haja divã). Que horas ela volta? Talvez não volte porque não possa, talvez porque não queira. O desejo sempre está em outro lugar.
Isloany Machado, 12.02.2019

Isloany Machado é psicóloga clínica, psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Fórum do Campo Lacaniano de MS. Revisora de textos na Oficina do Texto. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Dispensadora da ciência e costuradora de palavras por opção. Autora dos livros “Costurando Palavras: contos e crônicas” (2012), “Em defesa dos avessos humanos” e do romance “Nau dos amoucos” (2017). Mãe do Adriano. 
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sábado, 12 de agosto de 2017

O tempo do fantasma em Meu Malvado Favorito 3

de Isloany Machado    

        Quem me conhece sabe que eu adoro animações. Quem gosta de animações sabe que muitas delas não são feitas para crianças, mas para os pais, que têm nos filhos uma boa desculpa para ir ao cinema ver desenho. Pois bem, por que estou falando essa baboseira toda? Porque dias atrás, depois de uma abstinência de quatro meses, fomos ao cinema levar nosso sobrinho para assistir Meu malvado favorito 3. Se você não conhece, vou resumir o enredo da trilogia em algumas palavras.

       No primeiro filme, Gru é um vilão megalomaníaco que tem planos de roubar grandes monumentos: começa a história roubando uma pirâmide do Egito com uma arma disparadora de um raio encolhedor. Mas ele tem um concorrente muito forte, que lhe rouba a arma porque tem pretensões de roubar a Lua. Seria o maior roubo da história. Gru precisa reaver sua arma e está planejando como fazê-lo quando conhece três meninas órfãs moradoras de um abrigo. Elas estão vendendo biscoitos para ajudarem no custeio de suas despesas.
               Gru, um sujeito que odeia crianças, tem a brilhante ideia de adotá-las para ter auxílio em seus crimes. Apresenta-se como interessado na adoção, criando uma identidade de dentista e convence. Leva as meninas para casa, consegue reaver a arma, roubar a lua e tudo mais, mas quando se vê na iminência de perder as garotas, sofre e percebe que as ama. Uma luta para reavê-las e nasce, na minha opinião, um amor paterno avassalador. Gru se fantasia de bailarina ou de qualquer outra coisa para a felicidade das meninas, e agora já estamos no segundo filme. Conhece uma mulher e se casa com ela. Passa a trabalhar na liga anti-vilões. O louvável do nascimento do amor paterno é que Gru, além de não conhecer seu pai, ainda tem uma relação péssima com sua mãe. Uma mulher que sempre tratou com pouco entusiasmo ou até mesmo desprezo tudo o que ele fazia ou desejava desde a infância. Mas como “amar é dar o que não se tem”, como dizia Lacan, Gru pode dar a estas meninas um amor antes inédito.
Eis que estamos no cinema para assistir ao terceiro da saga. Gru já não é mais um vilão. Tem um emprego e uma família. Isso tudo poderia parecer pouco emocionante, um modelo de família burguesa, chata e medíocre demais se comparado à vida de aventuras anterior do ex-vilão. Mas ele perde o emprego, bem como a esposa, porque há uma mudança de chefia na liga anti-vilões logo após eles não terem conseguido solucionar uma missão. Pausa para o vilão da vez.
            O nome dele é Balthazar Bratt, um homem de uns 35 anos que foi, na década de 1980, uma criança prodígio que teve seus dias de glória e fama quando atuava em um seriado na tevê, no qual ele protagonizava “um menino mau demais”. Quando a adolescência chegou e, junto com ela os hormônios, ele cresceu e vieram as espinhas e barba. Por não ser mais um menino, ele deixou de fazer a série e também de ser amado pelo público. Qual é o grande lance? Bratt não se conforma com a perda a ponto de viver preso em seu passado dourado, de três décadas atrás. Ele usa ombreiras, bigode, tem um corte de cabelo característico e suas armas, bem como toda a trilha sonora que rodeia este personagem, está ambientada nos hits dos anos 1980.         Bratt rouba a cena. Eu amei este vilão, devo confessar.
            Passados alguns dias, estava eu sentada a estudar psicanálise para uma fala que iria fazer e, dentre os assuntos, a travessia do fantasma durante a análise era um deles. O fantasma, também chamado de fantasia fundamental, é um conceito muito importante na psicanálise. Em termos imagéticos, o fantasma poderia ser comparado a uma tela sobreposta à realidade. Em termos palavréticos, o fantasma seria a historieta que criamos sobre nós mesmos, sempre ficcional, a partir do que achamos que o Outro quer de nós. Assim, a partir dessa historieta, dizemos: eu sou isso ou aquilo e assim e assado. Mas o fantasma, assim como o sintoma, o recalque e todas as tentativas humanas de tamponamento do real, fracassam, se esgarçam em algum momento. É quando as pessoas chegam à análise, rotas, manquejantes.
            O fantasma é aquilo a que estamos presos e, para isso, não importa a passagem do tempo. Assim como Freud dizia de um dos princípios do inconsciente: a sua atemporalidade, também o fantasma não sofre desgastes temporais. O que isso quer dizer? Ora, que não há cura espontânea para a neurose. A famosa expressão “o tempo cura” cai por terra com a psicanálise. Na verdade, o tempo só faz piorar. Quem é chato só fica mais chato ainda. E por aí vai. Então, li num livro do Luiz Izcovich: “Contra o discurso corrente que diz ao sujeito ‘tens a idade de tuas artérias’, o sujeito permanece insensível, ele tem a idade do seu fantasma.” Aí eu só conseguia pensar em Bratt, aquele “menino mau demais” preso em seu fantasma a ponto de construir um mundo particular cuja passagem do tempo não conseguia penetrar.
            Em uma análise é preciso fazer a travessia do fantasma, deixar cair as identificações ao discurso do Outro, criar um estilo próprio a partir de um desejo inédito. Para fazer essa travessia, contra a atemporalidade, é preciso entrar na roda do tempo. A angústia, por ser um afeto que não engana, serve como bússola para o desejo, mas também é o que permite ao sujeito se dar conta passagem temporal, que não é de ordem cronológica, mas lógica. Trata-se do tempo lógico da neurose de cada um. Agora estou doida para estudar os tempos das neuroses. Ai que esse desejo não acaba nunca. Valei-me são longuinho! 
Isloany Machado, 10/08/2017.
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 Isloany Machado é Psicóloga clínica, psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Fórum do Campo Lacaniano de MS. Revisora detextos na Oficina do Texto. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Dispensadora da ciência e costuradora de palavras por opção. Autora dos livros “Costurando Palavras: contos e crônicas” (2012), “Em defesa dos avessos humanos: crônicas psicana literárias” e do romance “Nau dos amoucos” (2017). Mãe do Adriano

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Le Mystère Alexina - O curioso caso de Herculine Barbin: "Sou homem ou sou mulher?" no real do corpo

de Isloany Machado

A pergunta “sou homem ou sou mulher?” nos remete à clássica questão histérica, sobre que posição o sujeito ocupa na partilha dos sexos. Ora, bastaria despirmos um sujeito para determinar qual seu verdadeiro sexo? A resposta parece óbvia, e foi exatamente a este tipo de exame que submeteram Herculine Barbin, jovem de 25 anos que escreve suas memórias por acreditar que sua vida acabará em breve. O relato se passa no século XIX e conta a história de uma pessoa que descobre ser hermafrodita, mas só o faz depois dos vinte anos de idade.

Desde o final da infância tinha um distanciamento do mundo, como se houvesse já compreendido que viveria nele como um estrangeiro. Com a morte do pai, quando Herculine ainda era criança, a mãe ficou sem condições financeiras e a filha foi admitida num asilo que tratava doentes mentais, sendo criada junto com crianças órfãs. O fato de ter uma mãe viva a colocava num lugar privilegiado para as demais crianças que ali viviam. Certa feita, uma delas censurou-a por estar compartilhando de um pão que não havia sido feito para ela. Tempos depois foi para um convento onde participaria da vida de meninas ricas e nobres. Herculine, apesar da evidente diferença social que havia entre si e as outras meninas, se destacava nos estudos, impressionando as professoras. Neste lugar apaixona-se pela primeira vez.
Quando volta a morar com a mãe na casa de seus patrões, um pároco da cidade sugere que ela se dedique ao ensino e, autorizado por ela, divide a ideia com sua mãe e seu benfeitor. A ideia a desagradava, pois tinha por essa profissão uma antipatia irracional e profunda, e acreditava merecer coisa melhor. Neste período começa a se evidenciar a enorme distância física que havia entre ela e as outras meninas. Possuía muitos pelos no rosto e nos braços, fato que era motivo de chacota. Apesar da descrição do quanto os traços físicos eram masculinos, ela coloca uma oposição ao dizer que apesar disso nascera para amar: “todas as faculdades de minha alma estavam voltadas para o amor; um coração ardente escondia-se sob minha aparência fria e quase indiferente”. Herculine faz uma oposição entre masculino e feminino, dizendo que o amor é coisa das almas femininas.
            Com a passagem do tempo e a acentuação das características físicas masculinas, a angústia de Herculine aumenta. Finaliza o curso superior com as melhores notas e consegue um emprego como professora adjunta em um internato. Foi acolhida pela família proprietária como se fosse uma filha e passaria a gerir a instituição juntamente com Sara, uma das moças.
Na relação com Sara, inicia-se um envolvimento: “do fundo da minha alma, eu te amo como nunca amei ninguém na vida. Mas não sei o que está acontecendo comigo. E sinto que essa afeição não pode mais me satisfazer. Para isso preciso de toda a tua vida!”. Sara não recusa esse amor, sofre com isso, mas se tornam amantes.
            Pouco tempo depois, Herculine começa a sentir dores físicas tão fortes que a impediam até mesmo de gritar. A situação vai ficando cada vez mais insustentável e ela sai de férias com a decisão de buscar ajuda para retificar seu registro civil. Segue o trecho de um dos relatórios médicos:
“Dos fatos acima, o que concluiremos nós? Alexina seria uma mulher? Ela tem uma vulva, grandes lábios, e uma uretra feminina que independem de uma espécie de pênis imperfurado, não seria isso um clitóris monstruosamente desenvolvido? Existe uma vagina, bem curta na verdade, e muito estreita, mas enfim, o que poderia ser além de uma vagina? Ela tem atributos totalmente femininos, é verdade, mas nunca menstruou; externamente, seu corpo é masculino, e minhas explorações não me levaram a encontrar o útero. Seus gostos, suas inclinações a levam em direção às mulheres. À noite, as sensações voluptuosas são seguidas de um escoamento espermático; seu lençol é manchado e essas manchas têm um aspecto duro. E para finalizar, podemos encontrar os corpos ovoides e o cordão dos vasos espermáticos num escroto dividido. Eis os verdadeiros testemunhos do sexo; podemos portanto concluir e dizer: Alexina é um homem, hermafrodita sem dúvida, mas com evidente predominância do sexo masculino”. 
Restava à ciência agora reparar o erro. Herculine diz: “Mais tarde eu me arrependeria amargamente daquilo que então eu considerava um imperioso dever. O mundo logo me ensinaria que eu tinha cometido um ato de fraqueza e estupidez, e me puniria cruelmente por isso”.
            O saber médico determina a retificação nos registros civis, afirmando que ela pertencia agora ao sexo masculino e teria seu nome modificado. “Tudo estava feito. A partir de agora, o estado civil me obrigaria a fazer parte daquela metade da raça humana a que chamamos de sexo forte”.
Uma mudança de nome e registro civil. Isso basta para determinar qual a posição de um sujeito? Antes de saber de sua condição hermafrodita, Herculine já se sentia como alguém sem lugar, um estrangeiro. Separados da natureza pelo significante, não somos todos nós estrangeiros nessa pátria da certeza anatômica? Se antes Herculine era um estrangeiro por pertencer ao mundo dos significantes, após a busca por retificação que culminou em uma decisão judicial de torná-lo pertencente ao sexo masculino, ele se torna um exilado. Sobretudo porque, devido ao escândalo que esta mudança significou, ele perde o amor vivido com a mulher que tanto amava.
O fato de ter, anatomicamente, um “terceiro sexo”, nem masculino e nem feminino, colocou Herculine numa posição de estrangeiro, desde pequeno. Nos anos que se seguiram à mudança de seu registro, a morte passou a ser a possibilidade de finalizar a angústia de seu isolamento. Ciente de que a medicina utilizará seu corpo para estudos científicos, pede em seus escritos que eles analisem também todas as dores que queimaram e devoraram esse coração até suas últimas fibras.  Alguns anos depois, aos 30 anos, comete suicídio.
Independentemente da anatomia, o amor fazia com que se sentisse em casa. Será que o peso da nomeação foi o que levou Herculine à morte? Foi a expatriação sofrida? Ou terá sido a perda do amor? Não há como saber esta resposta, pois não se trata de um caso clínico, mas lembremo-nos do último pedido desse sujeito: “peço que analisem todas as dores que queimaram esse coração até suas últimas fibras”. Ao final do relato de Herculine, há vários arquivos dentre relatórios médicos e jurídicos, então, mesmo que a história tenha se passado anteriormente aos escritos psicanalíticos de Freud, como teria sido um relatório feito por este autor, caso fossem contemporâneos?

RELATÓRIO DE FREUD
Prezados senhores,
Devido ao sigilo imposto por meu ofício, direi apenas algumas poucas palavras. Desde nossa teoria da sexualidade, é sabido que as opiniões populares admitem que o ser humano ou é homem ou é mulher. A ciência, porém, conhece casos em que os caracteres sexuais parecem confusos e é portanto difícil determinar o sexo, antes de mais nada no campo anatômico. A genitália dessas pessoas combina caracteres masculinos e femininos (hermafroditismo). Assim me parece ser o caso de Herculine, exatamente como afirmam os relatórios médicos.
Mas mesmo na anatomia, até aqueles que são “homens” ou “mulheres”, não excluem, em sua constituição física, elementos do sexo oposto. Certo grau de hermafroditismo anatômico constitui a norma. A concepção resultante desses fatos anatômicos conhecidos de longa data é a de uma predisposição originariamente bissexual. Minha opinião teórica é de que seja possível transpor tal concepção da anatomia para o campo psíquico, em que teríamos, então, um hermafroditismo psíquico.
Independente do hermafroditismo somático de Herculine, seria ela uma invertida, já que foi criada como mulher e seus objetos sexuais sempre foram mulheres? Em seu relato autobiográfico, é evidente a culpa que sentia por se apaixonar por Sara e trair, assim, a confiança da mãe da moça, que a havia acolhido como uma filha. Ao mesmo tempo em que tinha uma “alma voltada para o amor”, delicada e feminina, ocupava um lugar masculino na relação amorosa, pois a moça era objeto de seu encantamento, chegando a se sentir sufocada às vezes.
Em minha clínica da histeria, pude elaborar que os sintomas histéricos são a expressão, por um lado, de uma fantasia sexual inconsciente masculina e, por outro lado, de uma feminina. A natureza bissexual dos sintomas histéricos, que pode ser demonstrada em numerosos casos, constitui uma interessante confirmação da minha concepção de que, na análise dos psiconeuróticos, se evidencia de modo especialmente claro a pressuposta exigência de uma disposição bissexual inata no homem.
Neste caso, não se trata de dissecar, compreender, averiguar e devolver-lhe seu verdadeiro sexo, mas antes, saber que as questões dos sujeitos vão muito além da anatomia. Sobre o inconsciente, sabemos que não há nesse sistema lugar para negação, dúvida ou quaisquer graus de certeza. Característica que chamamos de isenção de contradição mútua. Ao mesmo tempo, os processos do inconsciente não são ordenados temporalmente e podemos substituir a realidade externa pela realidade psíquica.
Deste modo, concluo meu relatório dizendo que importa mais saber para onde aponta o desejo de Herculine. O verdadeiro sexo anatômico, não pode ter relevância maior do que o posicionamento desse sujeito diante de sua realidade psíquica e na partilha dos sexos.   
S. Freud

Quando falamos de sexualidades, não diferenciamos homens ou mulheres a partir da anatomia, nem tampouco partindo de suas escolhas de objeto. Segundo Lacan, não haveria nada no psiquismo “pelo que o sujeito se pudesse situar com ser de macho ou ser de fêmea” (1964/1988, p. 194). Além disso, “as vias do que se deve fazer como homem ou como mulher são inteiramente abandonadas ao drama, ao roteiro, que se coloca no campo do Outro. [...] o que se deve fazer como homem ou como mulher, o ser humano tem sempre que aprender, peça por peça, do Outro. [...] A sexualidade se instaura no campo do sujeito por uma via que é a da falta” (p. 194). Homens ou mulheres, somos sempre seres faltantes.   
Só há uma certeza: seja nas escolhas de objeto sexual, seja no real do corpo de um hermafrodita, o sexo não se define pela anatomia. O sexo não se define no inconsciente, não se é homem ou mulher. Isso é o que menos importa, se é que importa. Os seres transitam e transam entre uma posição e outra, e o que importa a nós psicanalistas é ouvir o sujeito com suas questões, com sua sexualidade que, como afirmou Lacan, é definida pela falta. 
FOUCAULT, M. Herculine Barbin: o diário de um hermafrodita. Rio de Janeiro: F. Alves, 1982.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1905/2006.
FREUD, S. O inconsciente. In: Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1915/2006
LACAN, J. O Seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1964/1988. 
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Isloany Machado é Psicanalista, Escritora e Professora.  Membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano/MS. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Despensadora da ciência e costuradora de palavras por opção, é autora dos livros “Costurando Palavras”  (ed. Life, 2012) e "Em Defesa dos Avessos Humanos" (ed. Life, 2014). Fundadora do blog  www.costurandopalavras.com.br