sábado, 26 de março de 2011

Sempre ao Seu Lado

por Mauro Celso Lima


O filme começa colocando Hachi como herói. Porque herói?! Verifico no dicionário: Herói: […] 5. Personagem proeminente ou central que, por sua parte admirável em uma ação ou evento notável, é considerada um modelo de nobreza. [...] 10. O que por qualquer motivo, se distingue ou sobressai. Essas duas definições dão uma ideia mais ou menos clara das intenções do diretor quando coloca Hachi como herói. Sim, acreditamos que a intensidade com que aparece o sentimento de amor, lealdade e dedicação de um lado e o de persistência e não aceitação da realidade de outro, é o diferencial que faz do filme uma mistura única de sentimentos antagônicos no seus efeitos, onde leva a quem assiste a admirar e porque não sonhar com alguém que possa nutrir aqueles mesmos sentimentos com a mesma intensidade que o cão nutre pelo seu dono, por eles próprios. Esse é o segredo do filme! Levar a quem assiste a uma pureza de sentimento que chega a negação da realidade que se apresenta, mas o espectador não está consciente disso. Talvez por isso da emoção que brota do coração/ olhos de quem assiste. Pois esse mesmo espectador se depara com o improvável pois, o provável acarretaria dificuldades existenciais ou pra si próprio ou para aquele que nutre tal sentimento.
Mas essa também é a realidade de Hachi. A realidade que quis viver para si. Muitos dirão: “Mas é um cachorro! Como é que pode distinguir entre o que é ou o que não é real?” Pois é!! Isso é uma pergunta que não fazemos só para o animal. Podemos também perguntá-la a um ser humano.
Mas há outros aspectos também que gostaríamos de ressaltar na história que nos parece relevante. Um dos quais é o encontro de Hachi e o Professor Parker Wilson, como se o destino já tivesse determinado um cachorro especial para uma pessoa especial. Esse filme é o segundo que conta a mesma história desses dois personagens que viveram no Japão. O filme nos conta sobre alguém nos EUA que recebe um “presente” do Japão. A nossa sensibilidade não pode deixar de notar um provável convite para a sociedade Americana, e porque não Ocidental, aprender o jeito diferente de ver o mundo tal como o Oriente o enxerga. Quem sabe também não seria para que o ser humano pudesse integrar mais efetivamente no seu dia a dia o amor, a dedicação e a lealdade como sentimentos comuns uns para com os outros.
O apego também é tratado nesse filme de uma maneira muito particular. A cena da bola que Parker joga para Hachi poder pegá-la. Um cachorro comum a pegaria e levaria de volta para o seu dono, no caso de Hachi, como todo cachorro de raça Akita, não agradam seu dono e só fazem algo que tem sentido para eles, assim revela uma personagem do filme. Tal fato humaniza ainda mais o cachorro que está sendo humanizado desde o início do filme (projeções de sentimentos).
É notável também a negação de Parker na aceitação de Hachi em sua vida. Lutar contra algo é sinal de que esse algo já está lá. Não se luta sozinho! Essa negação atribuímos ao bom relacionamento dele com sua esposa que no começo não queria que Hachi ficasse mas rendeu-se a perceber o relacionamento entre os dois. Mais uma vez não dá para negar o que já está acontecendo, apenas ser honestos conosco mesmos e enfrentar a realidade. Mais uma lição bonita que o filme traz para quem assiste.
O cotidiano é tratado com extrema delicadeza no filme. As personagens, cada uma tem uma função específica no dia da outra. O vendedor de bilhetes, o vendedor de cachorro quente, a mulher da mercearia, etc. O E todo dia a mesma coisa e quase os mesmos fatos. Nada melhor de simbolizar esse fato do que um TREM (tem horário para chegar, para permanecer na plataforma e para sair – tudo cronometrado, como se a vida fosse um relógio. O cotidiano, a mesmice só irá ser superada pelo amor, tal como Parker falou para o futuro genro: “Você ama a minha filha? Porque o amor é a única coisa que lhe dará sustento nas adversidades.” Entendemos o cotidiano como sendo uma das adversidades para qualquer relacionamento.
A finitude encontra espaço na repetição do cotidiano. A vida continua na sua aspereza e crueldade mesmo na falta de alguém especial.
A aceitação da realidade como fato também é discutida nas entrelinhas. Deduzida a partir do comportamento do cão. O quanto estamos e ficamos presos a situações, a pessoas a estilos de vida e não percebemos que estamos parados num único e só lugar? O que o comportamento de Hachi também nos revela? Se não sou de um também não sou de mais ninguém... o quanto fazemos isso em nossas vidas? Será que temos algo a aprender com tal filme? Talvez, tentando humanizar o cão novamente, Hachi tenha encontrado um sentido em sua vida: esperar pelo dono!

Mauro Celso Lima é psicólogo e membro da ABRAPE

terça-feira, 1 de março de 2011

Verão 2011


de
Rodolfo Coelho


Choveu hoje à tarde
A chuva pegou-nos quando saímos
do táxi na Rua Sabará
Tudo estava lento e quieto.

Para onde andará Mubarak
À sombra das pirâmides
ou amealhando seu rico dinheiro
colhido durante 30 anos

Hoje eu vi uma foto da musa
Gisele Bündchen na farmácia
Tá comigo quando não houver mais jeito

Eu estou redescobrindo Fernando Pessoa
O prazer de ler Fernando Pessoa
Seu belo texto
Seu infindável “Eu”

Estive escutando Gil Unplugged
Gil e sua música caudalosa
Faz bem ao espírito e almas inquietas

Ela tem uma tatuagem no braço esquerdo
um sorriso colegial
e um rabo de cavalo
na cabeça é a minha musa itinerante
aqui no Scada Café

Eu estou atirando
prá todos os lados o que
cair é peixe

Biblioteca Mario de Andrade
Já que a preguiça não me deixa
nesta 2ª Feira de Fevereiro
resolvi fazer dela o meu ócio criativo
fazendo dela meu ócio criativo

A imaginação é mais importante
que o conhecimento - Albert Einstein

A geometria das coxas
a volumetria do desejo
eu quero ver
sentir
estar dentro
provar – Ferreira Gullar

Chove São Paulo
Estava na Praça da República
Uma esfiha e uma coca
Rumei para Galeria Metrópole
A chuva inclemente aporrinhava

Rodolfo Coelho, poeta urbano, é autor de seis livros:
RuAugusta com Creme – O Lobo Mau da Rua Augusta – Salada Paulista - Poesia 100 Filtro - Táxi e Outros Poemas Inéditos – Ignição