sábado, 13 de novembro de 2010

O Menino do Pijama Listrado

Comentários sobre o filme de
Henrique Senhorini - 08/11/2010

Hipóteses que suscitaram com o filme:

- Vale a pena viver para si e não para o pai (Outro)?
- Vale a pena se oferecer ao sacrifício pelo pai (Outro)?
ou seria......
- Vale a pena não viver só para o ideal ?
- Vale a pena se oferecer ao sacrifício pelo ideal ?

Articulando com a teoria
eu(ego) ideal - ideal do eu(ego)

Bruno é tomado de assalto após o contato com a realidade nua e crua (do nazismo) que, como conseqüência, desencadeia um enorme conflito dentro de si, entre o que a norma social vigente - nazismo - lhe impõe e o que seu coração - cristão* - enxerga, (coração esse, abastecido e orientado pelo olhar da mãe e principalmente pelo olhar da avó).
* Porque coração cristão? Porque a cena da irmã orando no trem a caminho de Auschwistz indica a formação religiosa da família.

Podemos dizer, sempre como hipótese, que esse conflito cria uma tensão, um embate com fim trágico entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, entre a Mãe e o Pai, entre a avó paterna e Hitler, entre o ego (mais amado do que temido) e superego (tirano e cruel). E - como solução desse conflito intrapsíquico, intrasubjetivo - ocorre uma espécie de substituição de Ideal do Ego....enquanto um é deposto (para ilustrar, da até para pensar que o ideal sofreu um processo de impeachment*) o outro é eleito em seu lugar.
* Processo de impeachment é um processo de acusação por alta traição do detentor do poder, do mandatário.

.....nos momentos finais, Bruno (na cena dentro do campo de concentração) percebe que não vale a pena viver por seu Ideal - representado pelo figura de seu pai, até então idealizado como soldado, comandante importante, justo, fazedor de medidas supremas e sublimes em prol da grande nação alemã - concomitante a descoberta que vale a pena, sim, morrer por um outro ideal (que é o mesmo de Smuel, representado pelo seu pai do qual se orgulha),.... e decide acompanhar seu amigo a procura desse pai (do Smuel), mesmo que isso o leve a morte..... Estaria aí uma tentativa de re-com-por (o Pai?),
de re-com-por o ideal do ego através da figura desse pai do Smuel?
... Afinal, é disso, só isso ou mais além disso que se trata?

Após essa pequena reflexão, novas hipóteses vem agregar:
Estaria aí, no cerne desse filme, a questão sobre a escolha entre o bem e o mal?
Entre Deus e o diabo?

Algumas referências bibliográficas em Freud:
(1914) Sobre o Narcisismo: uma introdução ; (1923) O ego e o id ; (1921) Psicologia de grupo e análise do ego
(1932) Novas conferências introdutórias sobre psicanálise

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Meu nome não é Johnny

comentários de Henrique Senhorini.


Cenas que chamaram a atenção da minha escuta analítica:
Quando criança:
- o Pai, com a mãe na cozinha, demonstra irritação relação ao recado que a diretora da escola fez do seu filho: “o que foi que essa senhora disse agora?”
- diretora do colégio disse que o menino: “faz bem os deveres de casa, mas...é um líder incontestável de fuzarcas monumentais”
- rojão na sala na hora do futebol; pai releva.

- Mãe abandona o lar - por conseqüência o filho - por não suportar o fracasso (entrega a morte) do pai.

Quando adolescente:
- fala de João na cena com o pai:  ... “como vou fazer para ficar mais rico que você(?)”
- experiência com a maconha - caso típico dos adolescentes como demonstração de pertencimento ao grupo dos “descolados”.
- pai recebe notícia que tem câncer (ou algo semelhante) e decidi não lutar/resistir, ou melhor, decidi se entregar para a morte passivamente.
- separação dos pais - abandono do lar pela mãe por não suportar as circunstâncias.
- Pai - num lampejo filosófico - diz pro filho: “...o tempo é uma raposa, quando você ver, já levou tudo.”
- Cléo Pires, diz na cena do primeiro encontro: “....você sabe que o mundo pode acabar amanhã?”
E o quando ela pergunta p/ João sobre o seu pai, esse responde: “ ...meu pai é tipo um vizinho”
- Numa das muitas festas, enquanto o pai morria no andar de cima, João se “matava” de pó no andar de baixo.
- no Tribunal perante a juíza - representante da Lei, João se declara como o único responsável e diz: “Eu nunca soube o que é dentro e o que é fora da lei. ”
- Comentário da juíza nos créditos: “ João Guilherme é a prova viva de que é viável recuperar as pessoas.”

Articulando com a teoria:
Em Nome-do-Pai
Questões relacionadas:
- identificação com o pai....estrutura-se querendo ultrapassar esse grande Pai (ideal?)
- pedidos de limites ao pai (que não são atendidos)
- falhas da função paterna, falhas na inscrição simbólica da castração - a que dá limites, mas, ao mesmo tempo, protege o sujeito .
- entrada na cocaína como apelo ao pai? - apelo a função paterna? Ou como versão do pai? uma Père-version, perversão? Uma coisa exclui a outra?
- a droga entra como instrumento de transgressão com a função de fazer existir a Lei....
- a droga não está ligada a uma estrutura... entrando, também, com a função de esconder o sintoma...(necessidade de ser querido/de ser notado/ de ser o astro provedor?)..., de tamponar a falta - no caso dele, maior ainda: sem pai/sem mãe - ...e de tornar suportável o insuportável....pai fraco, esperando a morte chegar
- não se preocupa em apagar os rastros....pelo contrário, deixa várias pistas (como joãozinho e maria) para ser pego....
- Perante a Lei, lembra “Crime e Castigo”...necessidade de pagar a dívida
simbólica (uma questão: dívida dele ou herança do pai?)
- submete-se a castração, se re-encontra, re-estrutura-se no entorno do significante Nome-do-Pai/Lei inserindo-se e inscrevendo-se na castração simbólica, que, por sua vez, possibilita uma desconstrução seguida de uma re-construção, reinventando-se, tornando-se um músico, compositor...artista...

- Aproveitando o comentário da juíza nos créditos do filme, podemos dizer que João Guilherme é prova viva de que é possível  transformar um sofrimento brutal numa dor bem suportável, quase banal ?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um encontro com Freud na Bienal de São Paulo

S U B L I M A Ç Ã O
...nas obras de Gil Vicente, deparei-me com a mais perfeita tradução do conceito freudiano. 
de Henrique Senhorini


Através dessas obras, enxerguei e compreendi - com o impacto de suas forças - o poder da arte da graça e da graça da arte... de como é possível transformar em pequenos assassinatos simbólicos, algo que poderia ser trágico, caso fosse atuado...

Trata-se de uma versão da transformação da angústia do real em angústia do desejo?
Dos excessos pulsionais - agressivos e destrutivos - em satisfações, simbólicas derivantes possíveis?