sábado, 14 de abril de 2012

La Luna

de Bernardo Bertolucci
por Karin de Paula

O incesto como insígnia do campo de discussão a
ser feito e não como tema; o filme como um sonho,
o sonho como uma psicose noturna e não como uma tentativa de reproduzir a realidade... 
Vários índices para isso, desde a declaração do próprio Bertolucci :

Um dos primeiros impulsos para realizar este filme, ele explicou numa entrevista feita entre a pré-estréia no festival de Veneza, em setembro, e o lançamento em Paris, em outubro do ano de 1979, foi uma recordação pessoal reproduzida no filme, numa das imagens do prólogo. Uma lembrança de uma tarde de verão, em que ainda um bebê sentado numa cesta presa ao guidom da bicicleta ele olhava o rosto de sua mãe e viu a lua no céu por trás dela.


Como restos diurno vemos citações aos cineastas – Pasolini Accattone (1961), Godard O acossado (1959) , ou de sua própria cinematografia ( “1900” de 1976[a fazenda]/ A estratégia da aranha (1970) [a Lua]/ Último tango em Paris [chiclete na varanda]... à Fidel Castro (falação que não interessa X momento do esquerdismo do cineasta)/ o dono do bar de estrada recita um trecho do próprio texto da ópera de Verdi (así, el posadero, cuando Caterina le pide "una habitación para dos" contesta con la narración que hace Azucena del suplicio de su madre, en "Il Trovatore" ("Condotta ell'era in ceppi al suo destin tremendo"), a Maria Callas 2 vezes tocada – voz- e outra num livro dado a Caterine de presente.


... E de forma marcante há as referencias às óperas de Verdi:
Mais claramente às: Il Trovatori/Rigoletto/ La traviata ( Il Trovatori sobre mãe e filho/ Rigoletto sobre filha ao pai) Il Trovatori é uma exceção na obra de Verdi que sempre escreveu sobre figuras de pais fortes


O tema de La luna, a conversa que o filme abre com o espectador, é sua encenação. Um pouco porque ele se refere a pessoas que encenam o tempo todo sua própria condição. Um pouco porque Caterina, Joe, Ariana, Marina são personagens que se interpretam a si mesmos com gestos exagerados, como atores de uma ópera que se esforçam para se fazerem compreender mesmo pelo espectador sentado na ultima fila do teatro. Gestos largos, voz bem projetada.


  • Sobre as aparições da lua ( mãe/lua/ Conde de Luna/no cenário da ópera) desde o filme anterior de Bertolucci
  • Desta mesma perspectiva, a droga dicção torna-se insígnia do gozo mortífero pertinente ao universo pulsional, dos excessos, como também no sonho.


É desde o fracasso de “alguma função paterna” que parece retornar à Caterina questões sobre ser uma mulher para Giuseppe: ele odiava minha voz, era egoísta, estava apaixonado por sua mãe”.
A questão parece ser antes sobre um “complexo”de Jocasta do que do de Édipo. Ela passa a perguntar-se: eu odeio minha voz? Tenho que não mais cantar? Ponho perguntas no lugar de afirmações desesperadas...
Complexo foi o conceito que Lacan tomou de Freud como precursor do de estrutura e de significante.


- sobre os dois momentos que pergunta do pai: de Douglas/ Giuseppe (as coincidências de nomes também, por exemplo, Giuseppe era o nome de Verdi, do servo de Violetta Valerie de La traviata, também do pai de Joe e do pai que Caterina queria “forjar”para o Joe quando o Leva aos portões da casa do músico... pai alucinado/inventado/desencarnado – a La Hamlet? Puro gozo de uma mãe não castrada?)
- das repetições que só se revelam depois: a mãe do pai (Giuseppe) e o pai; entre ela e o filho (Joe)
- falta por excesso de olhar? ... Coisas do Inconsciente...
La Luna
Karin de Paula é Psicanalista, Mestre e Doutora pela PUC-SP,  Pós-doutoranda na Paris 7, professora na universidade e em curso de formação de psicanalistas. Membro fundadora do umLugar – Psicanálise e Transmissão. Autora dos livros $em – sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise”, Ed. Casa do Psicólogo e Do espírito da coisa - um cálculo de graça”, Ed. Escuta.

Um comentário:

Eliane Accioly disse...

Vou procurar o filme! Um abr