sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Meu nome não é Johnny

comentários de Henrique Senhorini.


Cenas que chamaram a atenção da minha escuta analítica:
Quando criança:
- o Pai, com a mãe na cozinha, demonstra irritação relação ao recado que a diretora da escola fez do seu filho: “o que foi que essa senhora disse agora?”
- diretora do colégio disse que o menino: “faz bem os deveres de casa, mas...é um líder incontestável de fuzarcas monumentais”
- rojão na sala na hora do futebol; pai releva.

- Mãe abandona o lar - por conseqüência o filho - por não suportar o fracasso (entrega a morte) do pai.

Quando adolescente:
- fala de João na cena com o pai:  ... “como vou fazer para ficar mais rico que você(?)”
- experiência com a maconha - caso típico dos adolescentes como demonstração de pertencimento ao grupo dos “descolados”.
- pai recebe notícia que tem câncer (ou algo semelhante) e decidi não lutar/resistir, ou melhor, decidi se entregar para a morte passivamente.
- separação dos pais - abandono do lar pela mãe por não suportar as circunstâncias.
- Pai - num lampejo filosófico - diz pro filho: “...o tempo é uma raposa, quando você ver, já levou tudo.”
- Cléo Pires, diz na cena do primeiro encontro: “....você sabe que o mundo pode acabar amanhã?”
E o quando ela pergunta p/ João sobre o seu pai, esse responde: “ ...meu pai é tipo um vizinho”
- Numa das muitas festas, enquanto o pai morria no andar de cima, João se “matava” de pó no andar de baixo.
- no Tribunal perante a juíza - representante da Lei, João se declara como o único responsável e diz: “Eu nunca soube o que é dentro e o que é fora da lei. ”
- Comentário da juíza nos créditos: “ João Guilherme é a prova viva de que é viável recuperar as pessoas.”

Articulando com a teoria:
Em Nome-do-Pai
Questões relacionadas:
- identificação com o pai....estrutura-se querendo ultrapassar esse grande Pai (ideal?)
- pedidos de limites ao pai (que não são atendidos)
- falhas da função paterna, falhas na inscrição simbólica da castração - a que dá limites, mas, ao mesmo tempo, protege o sujeito .
- entrada na cocaína como apelo ao pai? - apelo a função paterna? Ou como versão do pai? uma Père-version, perversão? Uma coisa exclui a outra?
- a droga entra como instrumento de transgressão com a função de fazer existir a Lei....
- a droga não está ligada a uma estrutura... entrando, também, com a função de esconder o sintoma...(necessidade de ser querido/de ser notado/ de ser o astro provedor?)..., de tamponar a falta - no caso dele, maior ainda: sem pai/sem mãe - ...e de tornar suportável o insuportável....pai fraco, esperando a morte chegar
- não se preocupa em apagar os rastros....pelo contrário, deixa várias pistas (como joãozinho e maria) para ser pego....
- Perante a Lei, lembra “Crime e Castigo”...necessidade de pagar a dívida
simbólica (uma questão: dívida dele ou herança do pai?)
- submete-se a castração, se re-encontra, re-estrutura-se no entorno do significante Nome-do-Pai/Lei inserindo-se e inscrevendo-se na castração simbólica, que, por sua vez, possibilita uma desconstrução seguida de uma re-construção, reinventando-se, tornando-se um músico, compositor...artista...

- Aproveitando o comentário da juíza nos créditos do filme, podemos dizer que João Guilherme é prova viva de que é possível  transformar um sofrimento brutal numa dor bem suportável, quase banal ?

Nenhum comentário: