sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sentido e Significação do Cinema Brasileiro da Retomada

A Retomada do Cinema Brasileiro 1º capítulo da mini-série  
de Christian Ingo Lenz Dunker
No apagar das luzes do governo Collor de Mello inicia-se o desmonte da estrutura de produção cinematográfica brasileira. Em 1990 são desativados a Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes, 1969-1990), o Concine (Conselho Nacional de Cinema 1976-1990), a Fundação do Cinema Brasileiro (1988-1990) e em 1993 aparece a Lei do Audiovisual (Lei nº 8695/93, de 20 de julho de 1993). Em dezembro de 1992, ainda no governo de Itamar Franco, o Ministro da Cultura, Antonio Houaiss cria a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, que libera recursos para produção de filmes através do Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro e passa a trabalhar na elaboração do que viria ser a Lei do Audiovisual, que entraria em vigor no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Trata-se de um momento inaugural de uma relação nova e ampliada com as linguagens visuais. Do ponto de vista da recepção os anos 1990 assistiram a emergência de uma nova geração, pela primeira vez formada no uso da internet, dos chats e dos videogames. Escrever com suporte de imagem, assistir filmes fora do circuito em tela de computador, descobrir diretores e autores, produzir seus próprios ensaios para redes de compartilhamento, publicar fotos, montar trilhas, tudo isso tornou-se parte de um novo processo de alfabetização audiovisual que disponibilizava, mesmo que de modo rudimentar, as principais ferramentas e linguagens que determinam o cinema como a arte do real. O barateamento de tais recursos e instrumentos permitiu a criação de filmes com orçamento baixíssimo, a aparição de vanguardas experimentais e de uma massa extensa de pessoas interessadas em cinema.
A partir de 1995, começa-se a falar na "retomada" do cinema brasileiro. Novos mecanismos de apoio à produção, baseados em incentivos fiscais e consoantes a uma visão neoliberal de "cultura de mercado", conseguem efetivamente aumentar o número de filmes realizados e levar o cinema brasileiro de volta à cena mundial. Considera-se que Carlota Joaquina, Princesa do Brazil de Carla Camurati (1995), parcialmente financiado pelo Prêmio Resgate, inaugura este período. No entanto, as dificuldades de penetração no seu próprio mercado continuam: a maioria dos filmes não encontra salas de exibição no
país, muitos são exibidos em condições precárias, as salas
são inadequadas para a nova qualidade alcançada pela  produção, os lançamentos ocorrem nas datas desprezadas pelas distribuidoras estrangeiras, há pouca divulgação na mídia local e a nova geração de críticos ainda não se entende quanto à significação e aos sentidos da retomada.

Em 1997, para alcançar o mercado cinematográfico, as Organizações Globo criaram sua própria produtora, a Globo Filmes, empresa especializada que veio a reposicionar o cinema brasileiro em praticamente todos os segmentos. Em curtíssimo tempo, a produtora Globo Filmes viria a monopolizar o mercado cinematográfico brasileiro, ainda que para a escala de operação da rede de televisão, seu braço cinematográfico possa vir a ser considerada uma empresa pequena. Pela primeira vez cinema e televisão ocupavam o mesmo circuito de produção. Dessa maneira, através do cinema, o conglomerado foi capaz de atingir um dos últimos segmentos tradicionais do mercado audiovisual brasileiro, nicho no qual ela ainda não apresentava nenhuma participação realmente direta até então. Entre 1998 e 2003, a Globo Filmes se envolveu de maneira direta em 24 produções cinematográficas. Sua supremacia se cristalizaria definitivamente no último ano deste período, quando os filmes com a participação da empresa obtiveram mais de 90% da receita da bilheteria do cinema brasileiro e mais de 20% do mercado total.
Em 2002, no apagar das luzes do governo Fernando Henrique Cardoso um ato mudou completamente a relação de produção discursiva do espaço público brasileiro no que toca especificamente a produção cultural publicitária. Até então as agências de publicidade deveriam atender três de cinco condições para a produção de um filme: diretor brasileiro, autor de trilha sonora brasileiro, 50% da equipe de produção brasileira, 50% das cenas rodadas no Brasil, originalmente falado em português. Ao final do mandato de FHC esta norma foi substituída pelo pagamento de uma taxa à Ancine (Associação Nacional de Cinema) e pela adoção do critério mais genérico e flexível de que as produções deveriam ser “adaptadas” à linguagem e à cultura brasileiras.
A qualidade técnica da direção e da produção deste novo cinema novo é indiscutível. Herança da excelência adquirida com as peças de publicidade. Isso inclui todo um sistema de produção expresso, por exemplo, na fotografia de Afonso Beato, na edição de Lauro Escorel, nos roteiros de Marçal Aquino, no documentário com João Sales. Nas palavras de Flávia Moraes:
Eu acho que o que aconteceu com o Meirelles, com o Walter Salles, comigo e com outros é que a história se inverteu. Todos nós começamos e aprendemos muito com a propaganda. Tivemos a oportunidade de trabalhar lá fora, experimentar novas tecnologias, e amadurecer como realizadores, produtores, diretores e técnicos por meio da propaganda, porque ela dava condições financeiras, não só pessoal, no sentido de você poder se aperfeiçoar na carreira e ganhar dinheiro, mas de ter um negócio. A propaganda permitia investir em equipamentos, ter uma produtora,formar gente. Então eu acho que esse “contágio Meirelles” é algo que veio incubado em toda essa geração. Mas houve também o caminho inverso em termos de mercado. Antes, os subsídios da Embrafilme bancavam a produção. Isso acabou e o cinema só renasceu quando descobriu o mercado.”1
Alguns filmes lançados na primeira década do novo século, com temática atual e novas estratégias de lançamento, como Cidade de Deus de Fernando Meirelles (2002), Carandiru (2003) de Hector Babenco e Tropa de Elite (2007) de José Padilha, alcançam grande público no Brasil e abrem perspectivas de carreira internacional para diretores e atores brasileiros.
Ismail Xavier e Leandro Saraiva2 afirmam que uma das marcas desse período seriam as formas variadas e o retorno à tradição de “representação do país” como o Cinema Novo. Mas para o cinema da Retomada em vez da utopia consagra-se a distopia urbana, que vê com desdém ou cinismo qualquer perspectiva de mudança baseada no dirigismo cultural ou ideológico. Em vez dos típicos personagens paratópicos que in terra brasilis se apresentam como estranhos indignados (como em Terra em Transe), pícaros irônicos (como em Macunaíma), ou errantes perdidos (como em Rio 40 graus), agora chegou a hora e a vez do herói comum, integrado à sua própria paródia involuntária, fechado em seu plano de vingança unidimensional. Se por meio de seu projeto estético e ético, os ícones do Cinema Novo apresentaram uma concepção revolucionária de linguagem e uma persistência crítica na reflexão sobre a brasilidade, o que encontramos na sua continuidade na Retomada é mais uma tematização do fracasso e do impasse.
Do ponto de vista formal mantêm-se estratégias como a proposição do corte seco, a não linearidade da narrativa, a ênfase nos aspectos prosaicos da vida cotidiana, mas a novidade aqui é que se de um lado tais estratégias se combinam com esquemas derivados da linguagem da televisão, principalmente da telenovela e dos programas realísticos sobre a violência urbana, há uma segunda frente de inovação da linguagem fílmica: a publicidade. Este ponto separa o cinema Novo, Marginal e Mítico dos anos 1960, do que se passa no cinema da Retomada, ou seja, a recusa total aos padrões impostos pelos grandes estúdios. Se ambos retratam, respectivamente o sertão e a favela sob um novo olhar, retomando o padrão das narrativas clássicas dos tempos da Vera Cruz, o segundo encontra uma nova fórmula produtora-financiadora, derivada do universo da propaganda. Se o primeiro procurava criar um destinatário engajado e formar um público “mais consciente”, o segundo despreza a opinião pública e a regulação pela bilheteria. Temos então a linguagem da televisão, mas sem o imperativo da “continuidade de audiência” e a linguagem da publicidade sem o “empuxo ao consumo”.
Há, portanto, um duplo sentido de “retomada”. Ela significa o reinício da produção cinematográfica brasileira, agora em outras bases, o que permitiram a internacionalização e um salto de qualidade na finalização, no som e na direção de dramaturgia, graças principalmente à migração de práticas, pessoas e tecnologias do universo publicitário e à criação de uma produtora de tamanho global, a Globo Filmes. Mas ela significa ainda a recuperação de um ideário formal e narrativo explorado pelo Cinema Novo, pelo Cinema Marginal e pelo Cinema Mítico, mas agora sem um mandato de esclarecimento, iluminação ou formação de uma sensibilidade política, ética ou estética.
Esta alteração se explica pela mutação da meta-diagnóstica social do mal-estar na brasilidade. A oposição entre desenvolvimento e subdesenvolvimento é substituída pela oposição entre condomínio e segregação. Em vez da tensão clássicas entre a casa e a rua, o campo e a cidade, o espaço privado e o espaço público, surge um novo universo amórfico composto por prisões, lixões, edifícios e instituições totais. Se de um lado temos os “muros” do outro surgem os filmes sobre viagens, errâncias, passeios e evasões domiciliares. Assim como o Cinema Novo se opunha e pressupunha a chanchada, o cinema da retomada substitui as estratégia paródicas e exageradas em torno da sexualidade, por uma espécie de atitude distanciada, típica da comédia ligeira, mais americanizada e puritana do que reza a tradição nacional. Sem o senso pedagógico, a atitude grandiloquente e moralismo engajado, a retomada mostra-se assim muito mais palatável para um destinatário que aprendeu a se posicionar de modo paratópico, a evitar a política, a tomar distância de sua própria aparência.
Como argumentei em outro lugar esta substituição da centralidade do conflito real com a lei, pela interiorização psicológica do drama e pela exteriorização imaginária da violência, pode ser pensada como uma espécie de homólogo nacional tardio, da substituição das neuroses clássicas pelas neuroses de caráter, descrita por Lacan em 1938 para o caso francês, retomada por Lasch, na década de 1970, para a sociedade americana e suas patologias narcísicas e ampliada por Ehrenberg (1994) para a sociedade francesa premida pela depressão, em meio à cultura da performance. O declínio (Erniedrigung) do erotismo no cinema nacional, nos anos 2000, é um índice do recuo na abordagem direta do conflito social pelas estratégias narrativas do cinema. Não se trata, necessariamente, de uma evasão da política (the political), mas de uma reconsideração e de uma distância em relação às políticas (the politics).
O cinema da Retomada enfrenta o esgotamento da retórica da denúncia e da convocação militante para a ação, como Ismail Xavier3 salientou, a propósito do cinema de Arnaldo Jabor. A teoria do desmascaramento, herdeira do problema do declínio da figura paterna precisa fazer outro tipo de anatomia da decadência, dos impasses da vida conjugal na forma-família, da asfixia institucional, aparecem agora como capítulos ultrapassados da hipótese, agora gasta, sobre nosso liberalismo mal-concluído. É preciso uma reformulação da racionalidade diagnóstica que cerca a leitura do mal-estar brasileiro, para além do pai como articulador central dos dispositivos de autoridade, para além da família como lugar de asfixia do desejo, para além da oposição simples entre ideais subjetivos e condições objetivas. É preciso reconhecer que agora sofremos de outra maneira.
O primeiro traço desta mutação é uma reconfiguração dos personagens que dão corpo social à função da imago paterna. Por exemplo, em Lavoura Arcaica de Luiz Fernando Carvalho (2001), vemos a típica anatomia moral da paternidade, dividida entre os exageros do poder endogâmico e o declínio de sua autoridade real, mas a novidade agora é que esta divisão não assume função de denúncia ou desmascaramento, mas de intimidade impossível. A sexualidade e seu mal-estar não são vividos no registro da transgressão de fidelidades ou aderência aos dispositivos de aliança, mas como uma espécie de estetização do fracasso de nomeação. Exemplos deste processo vão se destacar principalmente na chave cômica em Durval Discos de Anna Muylaert (2002) e Eu, tu eles, de Andrucha Waddington (2000).
Ou seja, os cínicos da nova geração não estão interessados na crise da família, mas no lado “cafona”, vulgar e sem gosto do regime militar. Não demandam a recuperação dos espaços íntimos, a roda de fofoca cotidiana, mas as confissões pessoais e a “câmera bisbilhoteira”. Surge assim a tensão entre as pretensões de verdade das estruturas de ficção fílmicas e o real impossível de se inscrever, mais além da realidade que se apresenta diretamente sob nossos olhos. Os limites do documentário são abordados de forma quase metodológica em Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho e mais tarde por Santiago (2007) de João Moreira Sales.
O cinema da retomada não pratica denúncias pautadas, mas experiências de impasse, suspensão de orientações pragmáticas ou estetização da existência, como se pode ver de modo condensado no título e no filme Á Deriva (2009) de Heitor Dahlia e que encontra seu precedente em Cronicamente Inviável de Sérgio Bianchi (2000). Não se imagine que a ironia ou que a estetização são formas de neutralização da função crítica, mas sim, que estamos diante de um programa no qual a tematização do conflito deve ser desgarrada da indução de sua solução. Que a impossibilidade de colocar os termos do conflito talvez sejam tão importantes quanto as modalidades de seu diagnóstico. Reconhecer que a dimensão do reconhecimento depende de algo mais que boa vontade e voluntarismo torna-se assim um problema formal para a linguagem fílmica.
O quarto, e talvez mais importante traço narrativo do cinema da retomada é a a centralidade assumida pelo conflito e pela ação em detrimento da construção de personagens. Em lugar da verticalização dos personagens e da interiorização do conflito o que encontramos é uma orientação para a variação dos pontos de vista, até mesmo uma gramática regrada do desencontro entre enunciado e enunciação:
O cinema – o cinema narrativo, é claro – esforça-se, portanto, para esboçar uma síntese do sujeito narrador (aquele que “conta”) com o sujeito enunciador da imagem (aquele que vê, e por extensão, ouve, síntese intuitiva, claro, nem sempre bem resolvida, como ocorre nestes momentos em que o comentário-over (interno-passado) coexiste com a paisagem doada pelo olho da câmera (externa, presente).4
Ora os filmes da retomada se caracterizam justamente por uma espécie de administração calculada desta “síntese intuitiva, nem sempre bem acabada”. A crítica do sujeito não apela, pois para sua divisão, mas para sua dispersão.
Retomada, portanto, adquire aqui um terceiro sentido, quando examinamos as transformações especificamente verificadas no plano narrativo e do roteiro, ou seja, retomada adquire o sentido de ajuste de contas e de restituição do que foi “tomado”, no interior de um processo histórico. Daí a centralidade das narrativas de justiça, de vingança, de ajuste de contas no interior das narrativas deste período, para o qual “Ação entre Amigos” de Beto Brandt (1998) é sem dúvida a referência central.
O filme que melhor condensa esta mistura de exigências estéticas, políticas e produtivas é sem dúvida, O que é isso Companheiro? (1997) de Bruno Barreto. Inspirado no livro autobiográfico e homônimo de Fernando Gabeira, o filme aborda o sequestro do embaixador americano no Brasil e sua troca por aprisionados políticos, isso permite uma retomada direta e testemunhal dos fatos ocorridos no ano de 1969. Gabeira participou do grupo origina de sequestradores, o que confere ao filme alto grau de tensão entre ficção e documentário, o que é outra marca crucial para o cinema da retomada. O centro do filme é o grande diálogo entre o embaixador e seus captores, uma cena na qual as relações de poder, invertidas pelo sequestro, são gradualmente reconstruídas pelo reconhecimento mútuo entre os envolvidos. É um filme sobre a cura do ressentimento, mas também sobre sua gênese social. Tudo se passa como se a experiência de reconhecimento fosse possível apenas com um quarto elemento, mais além dos políticos e sua lógica de aparências, da polícia e sua moral vingativa e da convicção que rege os sequestradores. As relações de obediência incondicional, de violência conspícua, de disciplina autoritária, de hierarquia irreflexiva, são revividas no interior do grupo de sequestradores. Mas a inversão não é simétrica, o que torna a desproporção entre as formas de violência, marcada pela deflação de sentido. É a gênese do que virá a ser, mais tarde, apresentado como o sintoma social da violência “irracional, arbitrária e imotivada”.
O elenco de “O que é isso companheiro?” combina jovens atores emergentes da comédia televisiva, que abriu o tom da pós-ditadura, como Pedro Cardoso, Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, com ícones das grandes produções dos anos de chumbo: Fernanda Montenegro e Othon Bastos, acrescentando Alan Arkin como signo de nossa nascente internacionalização. Indicado ao Oscar o filme vem com a trilha sonora assinada por Stewart Copeland, nada menos que o baterista do grupo de rock progressivo, The Police. É paradigmático que o filme se passe, quase integralmente, em uma casa fechada. Neste condomínio asfixiante a liberdade é discutida em alta densidade existencial, seguindo a tradição sartreana que vai de Entre Quatro Paredes a Chinesa, de Godard, passando pelo nosso representante local, Arnaldo Jabor.
O tema segue o quiasma representado pelo sequestro, alusivo tanto ao sequestro real, movido pelo desejo libertário que não deixa descendência, quanto o sequestro alegórico de um período cuja história ainda está por ser feita. “Reféns em sua própria morada” eis o sintagma que a classe média reterá para exprimir sua vindoura nova forma de sofrimento. A interpretação do que significa “ascensão social” que perpassa a releitura do que significava, até os anos 1970, “progresso”, a inversão da temática da violência na tentação da vingança, a procura de um nome que justifique o mal-estar simultaneamente como uma experiência de sofrimento pela perda da alma (o declínio da militância revolucionária), da ruptura de um pacto (pelo Estado que não presta contas de seus atos), da intrusão de um objeto intrusivo (o estrangeiro interno ou externo) e a perda do sentimento de unidade (errância e anomia), são os veios narrativos que se entroncam ao longo deste filme, como uma espécie de sinédoque dos problemas do cinema da retomada. Os sentidos da retomada articulam, portanto, narrativas que farão séries históricas nos anos subsequentes. Outra coisa é reconhecer como estas articulações de sentido engendram a centralidade de um novo sintoma brasileiro, a saber, “a violência” como nome que confere significação a unidade estrutural formada por estas variações de sentido. Pois era justamente a violência que não podia ser propriamente reconhecida no hiato militar, que retorna, como retomada de conflitos que nunca puderam ser postos. Não dizemos com isso que a violência começou neste momento, muito menos que suas causas aqui se concentram, mas apenas que ela se tornou o sintoma social visível em torno do qual as narrativas de sofrimento podem se articular. Como todo sintoma ele contém um fragmento de verdade e de liberdade suprimida ao desejo e ao sujeito. Como todo sintoma “a violência” deve ser entendida como um nó de “não-sentido” em torno de uma significação (Bedeutung). Como todo sintoma “a-violência” é um falso universal erigido em prática discursiva de extração de mais-de-gozar.
Para alguns, mais difícil do que caracterizar o que vem a ser o cinema da retomada é saber quando ela termina. E seu fim, em aberto, é também o fim em aberto deste capítulo apagado de nossa história. 
1-http://www.revistapropaganda.com.br/materia.aspx?m=164 2- Xavier, I. (2006) O Olhar e a Cena. São Paulo, Cosac & Naify. 3-Xavier, I. (2006) Cinema Brasileiro Moderno. São Paulo: Paz e Terra. 4- Machado, A. (2007) O Sujeito na Tela. São Paulo, Paulus. 

Carlota Joaquina - Princesa do Brasil : filme completo


Christian Dunker é Psicanalista, Professor Livre Docente do Depto de Psicologia Clínica-IPUSP, Analista Membro de Escola da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, Doutorado (IPUSP) e Pós-Doutorado pela Manchester Metropolitan University (UK). Autor de vários livros, entre eles o vencedor do Prêmio Jabuti 2012: “Estrutura e constituição da clínica psicanalítica: uma arqueologia das práticas de cura, psicoterapia e tratamento” (ed. Annablume, 2011)

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