domingo, 7 de abril de 2013

Cosmópolis : Esquadrinhando a Contemporaneidade

de Rosália Maia

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela

Quem é ela, quem é ela...
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto Controle



Esquadros, Adriana Calcanhoto (1982)



Esquadrinhando a Contemporaneidade
A compressão pós-moderna do tempo-espaço colocou em questão nossa capacidade intrínseca de perceber, interpretar e lidar com várias realidades que se nos revelam a todo instante. Encontramos um crescente desmerecimento da percepção humana em prol da realidade tecnológica. Temos vivido um impacto significativo desta intensa compressão sobre a economia, a política e a vida sociocultural. A aceleração do giro na produção e no consumo vem influenciando as formas de pensar, sentir e agir do indivíduo.

Consequentemente, presenciamos a crescente volatilidade e efemeridade de modas, produtos, ideias, valores e práticas sociais. O instantâneo e o descartável permeiam nossa experiência, desde os recursos que empregamos no dia-a-dia até nossa maneira de nos relacionarmos com o tempo objetivo, compartilhado, medido pelos relógios e ciclos da natureza; e o tempo subjetivo, cuja experiência e medida dependem da história de vida, do funcionamento mental e da cultura em que cada sujeito está inserido.

Hoje, não identificamos mais nenhum valor perene que sirva de referência às práticas socioculturais e pessoais: estamos diante de um processo de fragmentação e ruptura do que denominamos sociedade.

É com este cenário que David Cronenberg revela a fascinante, dura, e às vezes nauseante realidade contemporânea em seu último filme: Cosmópolis. Baseado no livro homônimo de Don DeLillo, considerado o primeiro livro a retratar de forma fiel o século XXI, refletindo sobre as importantes alterações nos paradigmas do espaço e do tempo na contemporaneidade. Dirige a nossa atenção para um ponto, fundamental: a tecnologia de que dispomos hoje interfere de maneira direta em nossa relação com o tempo, na medida em que pretende, em última instância, reduzir o tempo entre o aparecimento de uma necessidade e o encontro com o objeto de sua satisfação.

Cronenberg carrega suas tintas ao retratar não só o mundo corporativo, mas especialmente a volatilidade dos mercados globais, a presença dos gênios que viraram milionários ainda muito jovens e o vazio interior que resulta na busca incessante por novas emoções.

Vemos uma rua onde inúmeras limusines brancas estão estacionadas e um jovem muito bem vestido começa um diálogo, a curta distância, com o chefe da sua equipe de segurança. O curioso é que apesar de próximos, eles se utilizam de pontos intercomunicadores inseridos em suas orelhas. Este é Eric Packer (Robert Pattinson), o menino de ouro do mundo financeiro, milionário, que diz ao chefe de segurança que quer cortar o cabelo.

Começamos a perceber a personalidade arrogante de Eric quando ele ouve o alerta de que as ruas de Manhattan estão tumultuadas, algumas fechadas porque o presidente está na cidade.

“– De qual presidente estamos falando agora?” Pergunta Eric ao chefe de segurança. Ele diz não se interessar pelo presidente do país e simplesmente exclama: “– Eu preciso cortar o cabelo”! Qual é o meu carro? Pergunta ele em meio a limusines, todas brancas, aparentemente iguais!

Mas... a sua limusine certamente está no páreo, competindo com todas as outras: blindada, à prova de som, equipada com os mais sofisticados aparelhos tecnológicos, ali ele monitora tudo e a todos e igualmente é monitorado pelos seus agentes de segurança.

Eric Packer vai recebendo pessoas e dialogando com elas, enquanto cruza uma Manhattan agitada por movimentos anticapitalistas, em busca do barbeiro que conhece desde a infância. Vivendo em um microcosmo, Eric parece não possuir habilidades relacionais, parece um “objeto” que troca informações com outros objetos. Não conseguimos perceber nenhum traço de afetividade nele.

Existe uma riqueza exuberante, excessiva, nos diálogos mantidos entre Eric e seus visitantes.

Levando para a perspectiva do simbólico virtual dos dias de hoje, constatamos que na tecnociência e no tecnocosmo contemporâneos, o papel da linguagem propriamente dita é cada vez mais limitado e dissociado entre a pura extensionalidade e a pura metaforicidade, que, tanto uma quanto outra não permitem uma autêntica relação ontológica de sentido. A informatização da ordem simbólica afeta todos os aspectos da linguagem natural a ponto de ser substituída por outra coisa que é conforme as exigências do reino técnico. A natureza material da linguagem é transformada: de vocal ou gráfica (dócil à audição e à visão), o signo se torna eletromagnético e, simultaneamente, torna-se transmissível nos meios radicalmente diferentes do meio natural do homem.

Em “O Mundo Sem Limite” de Jean-Pierre Lebrun, que é um marco para a clínica psicanalítica do social, vamos encontrar questionamentos graves acerca da contemporaneidade: “A sintaxe se alinha no registro binário”, diz ele. O discurso informático faz funcionar a máquina, organiza o crescimento do reino técnico: não ajuda o homem a estar no mundo, ele o integra no reino técnico como um vetor, um elemento funcional deste. O computador é fundamentalmente não dialético, está fundado no princípio exclusivo de não-contradição. Com o sistema binário é preciso escolher, é constantemente sim ou não.”

Citaremos para continuar nossas reflexões, Hannah Harendt, que é conhecida, sobretudo por seus trabalhos sobre o totalitarismo; ela afirma que: “Uma das características fundamentais do sistema concentracionário não é o fato de que “tudo é permitido”, mas de que “tudo é possível”!” Ela dá destaque especial à capacidade do homem do sistema totalitário de se cortar da experiência que, no entanto, dá consistência e sentido ao pensamento. Essa emancipação do pensamento com relação a si mesmo, que equivale a uma saída da condição humana, será paga com um pesado tributo: a ruína de sua faculdade de julgar.

Voltando ao filme, enquanto a limusine de Eric Packer vai atravessando as ruas de Manhattan, ele vai recebendo ali mesmo, em um espaço minúsculo e sofisticado, os seus visitantes, que parecem ao nosso olhar, oráculos contemporâneos que tentam interpretar o mundo para ele.
As cenas vão transcorrendo como o funcionamento psíquico do processo primário que caracteriza o inconsciente: a energia psíquica escoa livremente, passando de uma representação à outra, (de um quadro a outro, de uma cena à outra) pelos mecanismos de deslocamento e condensação, visando à satisfação imediata do desejo.

Existe uma riqueza de informação nos diálogos que Eric mantém com seus consultores. Percebemos uma pressão ansiogênica sempre perpassando a trama, expressa por exemplo, no diálogo que tem com sua chefe de Teoria: “Precisamos viver no futuro, Eric!” “É o cibercapital que cria o futuro!” “Tempo é um ativo corporativo!” Entretanto, começamos a perceber a condição de desamparo em que ele se encontra, pois não percebe que não há garantias definitivas para o que diz respeito à linguagem, sendo esta incapaz de fornecer uma resposta última e inequívoca para questões essencias como a da fragilidade da existência.

Cronenberg revela em Cosmópolis o desamparo (hilflosigkeit) correspondente à dimensão de fragilidade da linguagem, a sua precariedade fundamental, dado que esta nunca consegue fornecer de uma vez por todas as bases estáveis e definitivas de um mundo simbolicamente organizado. A linguagem só é capaz de criar um mundo à condição de continuamente recriá-lo.

Com uma preocupação desproporcional com sua saúde, Eric faz check- up todos os dias. Ele tem uma relação ambivalente e fragmentada com o seu próprio corpo. É surreal a cena em que o médico examina sua próstata, enquanto ele conversa com sua analista de finanças (lembrando que a cena se desenrola dentro da limusine). Ao receber o diagnóstico, o pobre rapaz rico fica preocupado: sua próstata é assimétrica!
E é, justamente por não perceber a assimetria da vida, por estar olhando o tempo todo para o próprio umbigo, que a decadência de Eric se torna possível. Vivendo de especulações financeiras, parte para uma aposta de uma terrível incerteza na bolsa de valores, e a trama do filme vai mostrando as angústias e contradições de viver em um mundo dominado pelo fascismo econômico.

Eric simboliza o que o capitalismo tem de pior. Em uma das cenas, fica evidente a sua ganância e o quanto o outro não lhe importa.
Sua consultora de arte, interpretada por Juliette Binoche, lhe oferece um quadro de Marc Rotko. Packer não se interessa pela obra de arte. É pouco. Ele quer comprar a capela inteira (onde está o quadro), que pertence ao mundo.
A cena de sexo entre sua consultora de arte e Eric, é no mínimo curiosa! Vivem em um universo desenfreado de gozo, o que só revela a outra face de suas experiências de desamparo. A limusine é um mundo bizarro! Ali ele faz transações comerciais, transações filosóficas, tem relações sexuais, bebe alcoólicos, come amendoins! Há uma miscelânea de tudo! Contrariando um velho ditado mineiro que diz: "Onde se ganha o pão, não se come a carne!”.

Com as palavras de Plastino (2002), “A ambivalência entre Eros e destruição, característica da natureza humana, delimita o contexto conflitante no qual se insere a experiência do homem, tornando imprescindíveis as práticas sociais capazes de, por um lado, permitir a administração democrática dos conflitos e, por outro, orientar o processo de socialização dos indivíduos de maneira a buscar a hegemonia do movimento erótico. A inserção social do sujeito humano supõe a aceitação, obviamente mais afetiva que racional, da alteridade, vale dizer, a compreensão da existência de um outro diferente que constitui um limite para a onipotência narcísica do sujeito.” No vínculo primitivo, o sujeito constrói seu narcisismo, indissociável da figura materna, na indiferenciação do eu ideal. Quando não superada, essa posição inicial, o sujeito inibe seu processo de socialização. Socialização que convém pensar como um processo cujo ponto de partida é o eu ideal, seu percurso, as sucessivas experiências de castração sofridas pelo sujeito, e seu desfecho, a substituição do eu ideal pelo ideal do eu. Nessa perspectiva, a experiência de castração é vista como humanizante por meio do qual o sujeito é levado a abandonar a exclusividade do investimento libidinal em seu próprio eu, a fim de aceitar a alteridade e os limites representados por ela.” É aqui que percebemos o comportamento anômalo de Eric.

Freud, em “O mal-estar na civilização”, diz que o desamparo é uma condição psíquica em que o sujeito não pode contar com a proteção da figura do pai. Sentindo saudades dessa proteção que um dia ele experimentou, o sujeito deve transpor um limiar crucial sem contar com seu apoio, uma vez que a figura do pai, aquele que gera amparo, é o representante psíquico do sistema normativo instituído.

Eric busca reviver esse momento de proteção no esforço obstinado para chegar ao barbeiro do outro lado da cidade, onde o seu pai o levava desde criança

Aqui faremos um recorte: se antes buscávamos a eternidade pela adoração dos Deuses, hoje acreditamos encontrá-la ocupando o lugar da própria divindade. A mídia que, no mundo globalizado, fornece informações aos quatro cantos do planeta, em uma velocidade espantosa, nos confere a ilusão da onisciência. A tela do computador e a internet permitem que estejamos em vários lugares e com várias pessoas ao mesmo tempo, o que nos faz acreditar em nossa própria onipresença. A capacidade de criar e recriar rapidamente novos objetos leva-nos a crer em nossa ilimitada onipotência.

Pensamos que a presença ausente de um governante (presidente) no filme nos remete a algumas reflexões: algumas vezes somos levados a crer que o saber leva espontaneamente ao poder, esperamos que se encontre em posição de autoridade aquele cujo saber é o mais competente, erroneamente produzindo a crença de que esse saber esclarecido é a melhor garantia para bem governar.
Entendemos, conclusivamente, que nenhum saber, mesmo que amplamente esclarecedor, pode autorizar o lugar do governante. Quando o sábio tem acesso ao poder, se torna rei; troca de ofício e deixa de ser sábio, pois o lugar do saber não é o lugar do poder.

CULTIVAR O MAL-ESTAR OU CIVILIZAR A CULTURA?
"Deixa-me sofrer o tremendo
castigo de minha temeridade!
Por muito que eu sofra,
nunca serei privada de uma bela morte."
Sófocles - Antígona, I, 20

 Eric Packer tem algo estranho do “macho-alfa” e do pai da horda primeva. Ele casou-se com Lucile sem conhecê-la direito, mas como era um bom contrato familiar, já que a família dela é muito rica também, dá-nos a impressão de ter sido um “bom negócio”. Percebemos que o sexo com sua esposa é raro, mas ele busca, ao mesmo tempo, fazer um exercício frenético de sua sexualidade com outras mulheres, como por exemplo, com a agente novata de sua equipe de segurança pessoal. Eric quer viver intensamente as emoções, mesmo que elas sejam sórdidas. Depois de um contato sexual com ela, ele tenta convencê-la a atirar nele com uma arma de alta voltagem, querendo antecipar a sensação mortal. Ao mesmo tempo que desafia a morte, ele sente que tem o controle sobre ela.

Vamos acompanhar uma cena onde um ativista acerta uma torta com chantilly no rosto de Eric. É interessante este manifesto. (Lembrei-me do “beijoqueiro dos anos 80”) O confeiteiro Andre Petrescu quer mostrar ao mundo as falhas de segurança e acertar os ícones do capitalismo, representantes da ordem em vigor. Ele relata que já alvejou várias personalidades. É curioso o olhar de gozo desse confeiteiro! Ali a intenção é de exposição e lançamento do sujeito no grotesco. “A minha missão é sabotar o poder e a riqueza.” “Eu deixei passar o presidente para te acertar! Você é um manifesto importante, difícil de mirar! Sou um pintor gestual das tortas de creme! Estamos diante daquilo que Birman chamou de sociedade do espetáculo.

Eric vivencia a experiência do sinistro (estranho), quando percebe que pode estar em ameaça real de assassinato. A angústia do real se produz pelo desmapeamento provocado no registro do eu. Sua subjetividade entra na incerteza e na imprevisibilidade, uma vez que não pode mais contar com seus operadores de regulação. Inicialmente percebemos Eric entrando em um processo de despersonalização e desrealização, desmapeando os enunciados instituídos sobre ele e o mundo.   
A primeira vez que percebemos alguma emoção em Eric é quando ele se enfurece com o confeiteiro. Ódio. Um ódio que irrompe com toda força e o torna violento. Então ele surra Petrescu. E... estranhamente, ele experimenta do chantilly que ainda ficou em seu rosto.
Quando ele percebe que não tem controle sobre os códigos de segurança das armas compradas para protegê-lo e que está assujeitado à proteção e ao risco simultaneamente, ele se vê sem saída e comete um assassinato: na suspeita persecutória de que seu chefe de segurança também pode querer matá-lo, ele o mata primeiro!
Quando chega ao barbeiro, encontramos um fato: ali, naquele cenário, nada mudou! Tudo está como antes esteve: a barbearia, o barbeiro, as cadeiras, espelhos, calendários na parede, tudo ali permanece da mesma forma de quando frequentava o local com seu pai.
Enquanto está ali, o barbeiro lhe conta que seu pai o obrigou a entrar no carrinho (um brinquedo sobreposto à cadeira de barbeiro para distrair crianças) e ele se recusou a entrar ali. Então ele foi colocado em uma cadeira tradicional para adultos e permanecer ali enquanto seu cabelo é cortado. Aqui entra uma questão: ele reconhece ou não a lei? Onde entrou ou não o interdito paterno?

Na contemporaneidade, não podemos mais nos ater a noções estanques de passado, presente e futuro. Vivemos, sobretudo, de relações dialéticas entre os vários estratos do tempo. O presente é futuro do passado; o futuro é o presente-passado de nossas fantasias; o passado é matriz de todos os outros tempos e, como toda mãe, nos acompanha pela vida afora.

Quando seu motorista denuncia a ausência do chefe de segurança, o barbeiro preocupa-se e lhe oferece uma arma. Eric diz que precisa sair, sem se importar com o próprio cabelo que está cortado apenas de um lado, ficando assimétrico!
Eric agora não se preocupa mais em apostar contra as moedas nas bolsas ou perder sua fortuna. Ele parece obstinado a encontrar quem quer matá-lo. Nesse ponto do filme nos perguntamos quem quer promover o assassinato de Eric e por quê? Ele sabe que existe alguém espreitando-o, que o conhece e que sabe quem ele é, o que faz, sabe tudo sobre sua vida. Mas, quem é esse outro desconhecido para ele mas que o conhece tão bem? Conhece seus sistemas de defesa e segurança? Quem decifrou seus códigos e deixou-o vulnerável?
Quando o motorista vai guardar a limusine porque a noite já vai alta, Eric o acompanha, ele quer saber o que acontece quando todos dormem. Para onde vão as limusines?
E aqui entramos em um momento de clímax do filme.

Na rua, um tiro ecoa pelos ares e acerta um táxi perto de Eric. Ele “sabe” que está perto de encontrar seu antagonista.
O cenário é desolador: miséria, decadência, caos e suspense.
Eric, agora, vai perseguir aquele que o ameaça.
Vamos entrar com ele em um prédio imundo... e arrombar uma porta. Com a arma em punho Eric vê um homem com um pano na cabeça sair de um banheiro! Ele é Richard Sheets. Sheets, com a devida tradução para o português: merda! (Aqui é Paul Giamati, em uma interpretação magistral.)

"O que faz aqui?” Questiona Packer.
Não é essa a pergunta!” Diz o homem.

A cena é fascinante pois o homem, tal como a Esfinge para Édipo, propõe um enigma à Eric !

Quero matá-lo para fazer algo importante na vida! Você não me reconhece? Diga quem pensa que sou.”

Eric não sabe. Ele diz que ele próprio havia se tornado um enigma.

Não consegui perceber uma tendência... Não consegui entender o Yuan!(nome de uma moeda e que naquele momento tem a supremacia sobre as outras)”

Então você pôs tudo a perder? Questiona Richard Sheets que não suporta ser chamado por este nome, e quer ser um outro, Benno Levin.

E o diálogo vai seguir um curso sobre a vida e a morte.
Este homem, na verdade, trabalhou com análise de moedas na Packer Capital, era funcionário das empresas de Eric, diz que de qualquer maneira precisa matá-lo, tem motivos justos para isso, a começar pela opinião de que ele é repulsivo e insanamente rico.

O crime não tem consciência! Seu crime está na sua cabeça! A violência precisa de um fardo!

Aqui Eric ardilosamente vai procurando palavras para operacionalizar Sheets, como se fosse sorrateiramente acessando seus significantes de maneira a controlá-lo.
Surpreendentemente, Eric atira na própria mão! Fazendo-se então estigmatizado!
Richard prontamente pega um tecido para ajudar a estancar o sangue. E diz que Eric fez as análises do Yuan seguindo os padrões da natureza, a harmonia cruzada, o número áureo. E diz que Eric não conseguiu enxergar que a resposta estava em seu próprio corpo, a resposta estava em sua próstata! O Yuan não tinha nenhuma tendência de simetria! O yuan era assimétrico como sua próstata e ele não conseguiu perceber.

“Mas o meu fungo manda matá-lo!" Grita Sheets.
Você conversa mesmo com seu fungo? Eu já vi pessoas que conversam com Deus!..." Manipula perversamente Packer.
Eu queria que você fosse o meu Salvador!" Exclama Richard.
Nesse ponto, Sheets, mesmo armado, já foi capturado pelo narcisismo aspirante de Eric, que num ato, em um simulacro, se torna um deus! Conseguiu acesso aos códigos delirantes dele. Eric, com um estigma na mão, com um furo no real se identifica com o próprio Salvador dos Cristãos

Concluindo para não concluir
Cosmópolis retrata toda a dimensão trágica da experiência humana do sofrimento – pathei mathos, um sofrimento que comporta a possibilidade de transformação do vivido em sabedoria.

Rosália Maia é psicanalista, psicóloga. Especialista em Teoria e Clínica Psicanalítica. Pesquisa as novas formas de subjetivação na atualidade.

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