domingo, 15 de dezembro de 2013

Puzzle - Compulsões Sexuais (toda compulsão é sexual)

de Arnaldo Domínguez de Oliveira

... a palavra em seu estado de representação...” Rui Filho
Uma compulsão é alguma coisa que empurra – zwang – à repetição de dizer, fazer ou pensar alguma coisa. Compete a nós, psicanalistas, “domar a compulsão de repetição” e transformá-la em motivo para recordação na ‘neurose de transferência’, uma neurose artificial.
Será também de nossa competência apoiar o fechamento do vão livre do MASP contra a invasão dos “craqueiros” e outros tipos indesejáveis? – lugar onde eu próprio conheci nos anos oitenta, um “Orixá” graças a cuja intervenção posso ainda estar neste país. Talvez sim. Hoje em dia eu nem frequentaria esse lugar urbano em horários impróprios.
Os humanos – segundo Freud em Novas Recomendações Sobre a Técnica, 1913 – somos a miúde adeptos à “política do avestruz”. Digamos, à razão cínica pela via da Bela Indiferença ou da Alma Bela. Seremos, então, os psicanalistas os domadores que colocaremos às rédeas da transferência nas pulsões indomadas? Entretanto, posto que o analisante não reproduzirá o esquecido ou recalcado como lembrança, senão que o atuará, ele não poderá se livrar da compulsão à repetição por ser o modo de recordar de que dispõe.
Em 1932, por ocasião das Novas Conferências apenas escritas em plena crise de falência da editora da IPA – quando esse autor acreditava produzir seu último livro – Freud associou os “sonhos de punição” ao supereu e os ”sonhos de angústia” à Compulsão de Repetição já ligada à Pulsão de Morte no Mais Além do Princípio do Prazer de 1920.
Ele próprio parece-me que se livrava da angústia da temporariedade numa compulsão pela escrita. (Tomara que nos contagiemos deste sintoma). E assim Freud enviou uma carta para Max Eitingon em 20 de março de 1932, onde dizia: “Sempre se deve estar fazendo alguma coisa, mesmo com o risco de ser interrompido – mais vale isso do que desaparecer em estado de preguiça”.
E por falar sobre a escrita eu assisti ontem (28 de novembro de 2013) no Teatro Paulo Autran, em São Paulo, o “Lado A” da peça “Puzzle”, dirigida por Felipe Hirsch. Um quebra-cabeça em três partes (A, B e C) apresentado para o Programa Brasil Convidado de Honra da Feira do Livro de Frankfurt neste mesmo ano. Um Brasil já não mais colorido, como àquele dos tempos de Carmem Miranda, senão o atual, em branco e preto.
Cíntia Moscovich na Zero Hora comentou: “’Puzzle’ mostra na Alemanha um Brasil tão de verdade que chega a ser constrangedor: sem concessão alguma”.
Hoje eu penso que Genet resulta quase ingênuo perante a “literobucetalidade” de uma escritora ou frente ao discurso de nossos guardiões da ordem estabelecida que gritam: “que se foda toda metapsicologia”. “A gente é burra mesmo!”. Aliás, “burros” porque somos machos!
Eu já havia redigido o texto que segue antes do espetáculo e vivi um déjavú ao experimentá-lo. Pois bem, vamos enfrente, não fui inibido por isso, senão que me senti empurrado: “O leitor abrirá Nossa Senhora das Flores como se abrisse um armário de um fetichista e encontrará ai, dispostas nas prateleiras, como sapatos que foram cheirados e beijados e mordidos cem vezes, as palavras úmidas e perversas que brilham com a excitação que elas despertam em outra pessoa e que nós não podemos sentir”. Jean-Paul Sartre
.Os sonidos do silêncio. As palavras a que Sartre se refere ao apresentar o livro de Jean Genet, “Nossa Senhora das Flores” (Ed. Nova Fronteira) são materializações de uma Wiederholungszwang (compulsão à repetição no dito ou na escrita), que se manifestam em letras substitutas dos objetos fetiches tais como seriam os sapatos mordidos. Digamos, então, que falar também é um gozo e que tais palavras gozadas podem comparecer na cena dialética para fornecer um brilho de excitação que muitos não poderemos sentir, mas poderemos escutar se suportarmos o silêncio presente nos meandros. Destas materializações Freud certamente condensaria em nota de rodapé nos Três ensaios: As fantasias claramente conscientes dos perversos (que, em circunstâncias favoráveis podem transformar-se em atos), os temores delirantes dos paranoicos (projetados em outrem num sentido hostil), e as fantasias inconscientes dos histéricos (descobertas por trás de seus sintomas através da psicanálise) e coincidindo até os mínimos detalhes em seu conteúdo. Entretanto, a teorização tantas vezes assumirá também um teor compulsivo invasor, por exemplo – em nossa prática psicanalítica – dos escritos, dos debates, das supervisões em grupo, etc., quiçá visando por um lado, preencher todas as frestas de angustia que o não saber produz em nós e por outro, provavelmente, seduzir o interlocutor quando posicionado nos extremos lugares de + 1 ou de não saber interessado (histérico). Seja como for, a clínica sempre se sobrepõe instrutiva para o bom escutador. Em nosso campo de investigação privilegiado pela relação transferencial a histérica insiste em nos tornar mestres e é expert em encurralar-nos contra a parede para exigir a produção de um saber. Decifra-me ou me devoro! Assim era enunciada a ameaça autopunitiva forjada pelos excessos de uma mulher obesa cuja demanda era endereçada a mim.
Em contrapartida, o perverso anuncia – pleno de mestria – seu direito ao gozo. Assim gravou uma mensagem em minha Caixa Postal do telefone fixo: “Yo tengo derecho a chuparte la pija y quiero saber quién será el hijo de puta que me podrá impedir!”, e essa enunciação de “direito” (do mal) representava o grito proferido depois que o paciente fora informado sobre meu recurso às leis jurídicas para me defender de sua ameaça erotomaníaca e de sua denúncia no Conselho Regional de Medicina alegando que eu o teria “seduzido no divã”, o que lho autorizava ao usufruto do caráter descrito por Freud (sem mencionar o Édipo): As Exceções. Antes do ato me fizera saber que, em sua adolescência havia perdido uma importante bolsa de estudos e fora detido (e humilhado) na delegacia de polícia ao ser encontrado praticando a fellatio no namorado da professora de Geografia (dele). Seu pai concordara plenamente com tal punição e sua mãe, que foi, durante a infância dele, amante do médico da pequena cidade utilizando-o como álibi perante as eventuais suspeitas do marido, desta vez não demonstrou a cumplicidade (devida) esperada por ele, pois se inverteu a dívida simbólica.
Escreveu Freud nos Três Ensaios: “O caráter histérico permite identificar um grau de ‘recalcamento sexual’ que ultrapassa a medida normal... Esse traço de caráter, tão essencial na histeria, não raro escapa à observação casual, ficando encoberto pelo segundo fator constitucional da histeria, ou seja, o desenvolvimento desmedido da pulsão sexual;... enigmática contradição – par de opostos – uma necessidade sexual desmedida e uma excessiva renúncia ao sexual”.
Não podemos esquecer que, para Freud, a fantasia (fantasma perverso) é positiva (consciente) na perversão e negativa (inconsciente) na neurose.
E na psicose retorna desde fora onde foi projetada de maneira hostil: uma paciente que vinha regularmente às sessões em que estava terminantemente proibida (por ela e por seu delírio) a emissão de qualquer som ensinou-se duramente a dar suporte a todo o seu silêncio constrangedor e ajudou-me a constatar que eu poderia suportar o meu próprio silêncio. Por outro lado, uma analisante de elevada formação intelectual me advertiu durante uma sessão: - Não leve tão em sério as minhas arguições. Elas, muitas vezes, se exibem usando lingerie vermelho!
Contudo, suportar os silêncios não é tarefa muito simples. Ainda mais, quando eles se apresentarem na forma de desafios, pois nestes casos competirá ao analista fazê-los falar ou calar, dependendo da motivação. Cito como exemplo, o torpedo enviado por outra analisante que disse: - Desculpe, eu não vou... desculpe por perturba-lo... Agradeço mais não vou... Eu só quero desaparecer e silenciar
E essa proposta de silêncio seria um grito de desespero ou uma constatação suicida? Há um ruído que pode ser ensurdecedor nestes silêncios. Os humanos somos muito ruidosos porque a pulsão sexual, mesmo surgindo na calada da noite, é sempre barulhenta. Apesar de que quando se mostrar charlatã pode também nos enganar com uma roupa que não conseguiremos ver se não pudermos fechar os olhos (da pulsão) onde o rei está nu!
Primum non nocere!
Os antigos celebravam a pulsão e se dispunham a enobrecer com ela até mesmo um objeto inferior, enquanto nós menosprezamos a atividade pulsional em si e só permitimos que seja desculpada pelos méritos do objeto”, Freud, Três Ensaios – Nota de rodapé acrescentada em 1910.
O tema do diagnóstico em psicanálise é sempre um assunto de grande relevância, sobre tudo, para que não provoquemos surtos psicóticos por imperícia. Mas, muitas vezes, tal debate pode apresentar-se qual um modo de tamponar o que falta: o não saber. No discurso da sexologia oitocentista e persistindo ainda na teoria freudiana, a perversão referia-se às condutas sexuais cuja finalidade era diferente da procriação. O avanço promovido pela psicanálise consistiu em torna-la um elemento sempre presente seja de maneira negativa ou positiva, em todos nós.
Para Lacan, no Seminário IV (As relações de objeto), a perversão está considerada em relação ao falo e à identificação. O paradigma é o fetichismo, pois o fetichista se identifica com o falo como objeto imaginário que completa o desejo materno. Primeira fase do Complexo de Édipo (Seminário V, As formações do inconsciente). Ser ou não Ser, 1957/58. No Seminário X, sobre a Angústia, o falo será o significante do desejo, causa do desejo: objeto ‘a’ e muda assim o estatuto do fetiche que passou de “ser o falo” a ser o “objeto causa do desejo”. No Seminário XVI (De um outro ao Outro), Lacan eleva a perversão ao grau de estrutura. Posição do sujeito perverso: identificação com o objeto ‘a’ para servir, de tal maneira, como instrumento do Gozo do Outro. Um bom exemplo disto é o discurso de Feliciano no atual comando da Comissão de Direitos Humanos no Planalto Central do país com cinco mil alto falantes!
Eu acrescentarei aqui, a estes critérios lacanianos para pensarmos sobre a perversão, a constatação discursiva da negação da alteridade e, em consequência, da subjetividade que constitui o outro enquanto tal, diferente de mim, indo, assim, do sexual ao social.
Digamos como exemplo, Maluf ao relatar sua lua de mel ocorrida há 58 anos antes da entrevista diz: eu me casei em tal data, viajei para tais e tais lugares, fiquei em tais hotéis, etc. Parece-nos que a esposa não participou dessa experiência, ao menos no discurso dele não há lugar para isso. É o UM de dois.
Pois bem: sob a desconfiança diagnóstica de “perversão” foi apresentado, numa “hora clínica” (no CEP), um recorte referente ao atendimento de uma mulher casada com seu primo irmão quem também tinha um caso amoroso com a cunhada (irmã da esposa) dentro da residência do casal. Ela, por sua vez, iniciara um relacionamento com um Policial Militar, guarda da creche onde deixava o filho. Os encontros sexuais aconteciam pela manhã e dentro do carro dela. O marido, desconfiado, colocou uma escuta no carro e descobriu tudo. Depois disso, ele ficou ainda mais apaixonado e excitado o que o fez procurá-la sexualmente a toda hora. Assim, entre o policial pela manhã e o marido à tarde e à noite, ela chegou à análise chorando e se queixando:
- Não aguento mais transar!
Porém, não conseguia parar, afinal, o marido afirmara: “Você é uma mulher muito gostosa para ser somente minha!”. E a analista pensou: “o homem se reconhece amando quando sente ciúmes”?
Não conseguir parar coloca a questão desta mulher numa dimensão temporal. É o tempo que não para!
Conforme Hegel, o primeiro monista, a temporalidade está incluída na razão no pensamento ocidental. Na origem do ser se encontra o espírito (existência em si). Para ir em direção a si o ser tem que se expressar: dirigir-se à matéria> natureza> história> homem> consciência> filosofia> e por fim, numa elipse recuperar a história do espírito. Em Hegel, o desejo é sempre desejo de desejo (Fenomenologia do espírito). Já para Marx o espírito surge como expressão da consciência humana e não como a origem. Lacan demonstrou como o Eu vem de fora, no Estádio do Espelho, sendo uma ilusão na qual eu me alieno para poder me reconhecer: quem sou eu?
Quero dizer com isto que “o princípio de identidade é diferente para a psicanálise e para a ciência, com o qual digo que a psicanálise não é uma ciência” afirmou Graciela Brodsky em Córdoba (16 de outubro de 2006) ao falar sobre “A diferença sexual na experiência analítica”.
Para a psicanálise freudiana, o espírito que age inconscientemente na sobredeterminação do funcionamento do Eu é a Fantasia Inconsciente - o Fantasma - realidade do inconsciente enquanto sexualidade (falta em ser). E é próprio da lógica do Fantasma que os sujeitos inventemos um lugar incestuoso que funcione qual “identidade” destinada a negar a falta. Nesse caso relatado pela paciente foi: a “gostosa”.
A proposta do fantasma é a realização do incesto e como múltiplos fantasmas em massa constituirão o social e possível supor que a realidade social em que estamos inseridos tenha estrutura fantasmática regressiva, ou seja, contra a lei. Podemos afirmar que esse social seja um estado de exceção: de destruição. Ou, pelo menos, um estado pleno de direitos (sem deveres) para alguns “eleitos” representantes da Vox Pópuli. Um estado de perversão. Por isso é fundamental, de acordo com Freud, que exista ao menos uma lei reguladora que controle o mal estar na civilização: não matarás! Entretanto, essa lei falta (falha) em muitas circunstâncias em nossa cultura o que faz com que nos tornemos cada vez mais “matáveis” conforme afirma Giorgio Agamben em seu escrito sobre o Homo Sacer e a vida nua.
Ao dizer de Albert Camus sobre o mito de Sísifo, é essa dor sem escolha (dor de existir) que o obriga a realizar um trabalho inútil e sem esperança e o transforma em proletário dos deuses, trágico porque consciente: “a tragédia começa no momento em que se sabe”. Daí a importância que eu outorgo ao citar sempre o imperativo categórico formulado pela mãe romena do meu amigo Schlomo: melhor você não sabe! A paixão pela ignorância que pretende defender pela via do verleugnung (desmentido) que A vida é bela!
E eis que começou a tragédia dessa analisante “gostosa” porque veio para construir um saber. O que também a situa dentro da perspectiva ética do desejo. Veio em busca da lei do desejo para escapar da lei do gozo.
Comparemos, então, este breve relato clínico com uma matéria publicada na http://revistatrip.uol.com.br/revista/179/reportagens/Ruth-pega-geral.html, em 01/10/2013 e que me foi sugerida pelo jornalista Romulo Osthues, a quem agradeço profundamente.
Ruth pega geral: Ruth, 52 anos, professora, transa com até 41 homens numa noite sem cobrar e sem perder o tesão. São sessões de gang bang. Durante a reportagem um homem sai cambaleando da suíte nomeada “O cantinho da Ruth” e desabafa: “Porra, merrrmão, foi surra de boceta, foi surra!”. Quem bateu no grandalhão foi Ruth! Escreve Lino Bocchini na revista, como se fosse um espetáculo de luta. E talvez o seja, não?
Novamente o tempo: “A celulite já está aparecendo, e as ruguinhas também... mas os peitinhos continuam em pé e a bundinha, durinha, fazendo o maior sucesso. A vontade de trepar segue no auge, e minha resistência para ser fodida diversas vezes seguidas não diminuiu. Aliás, acho que aumentou!”
Ela se tornou uma celebridade na cena swinger carioca e na internet ganhou fama como Ruth36. O marido explica que é por ter transado com 36 homens numa noite só, mas já bateu o recorde. Agora são 41.
A explicação de Ruth sobre as origens desse espírito erótico está na infância, quando brincava de médico com os meninos do prédio. “Hoje eu adoro quando tem uma meia dúzia de homens em torno de mim, me usando e abusando”. Festas liberais! Sou total flex! (Homens e mulheres), afirma Ruth.
As pessoas podem assistir tudo o que rola dentro do Cantinho da Ruth através de um vidro e sentadas confortavelmente em uma sala de estar.
Ruth aguarda com ansiedade as quintas feiras, quando tudo acontece e ela tem que estar “gostosona”. Gosta de se definir como uma “exibicionista completa”. Conta com alegria como teve um caso amoroso com oito fuzileiros navais ao mesmo tempo. De acordo com o repórter, narra isto com a mesma naturalidade com que poderia falar sobre o café. Na última quinta – diz – morreu de prazer durante um gang bang anal com 15 homens.
Todavia, considera que as melhores transas da noite são, depois, com o marido que não tem ciúmes em absoluto. Porém, faz uma ressalva: evita o sexo quando está menstruada.
A matéria esclarece: se trata de um casal de vida social normal, profissionalmente bem sucedido, pais dedicados e, além disso, muito educados e simpáticos.
Mas o marido alerta: “Ela gosta de carinho, de cuidadinho. E não gosta dessa história de tapa na bunda, que puxem o cabelo ou apertem o bico do peito muito forte. Isso corta o barato dela”.
E assim falava Ruth VIP: a Very Important Puta.
Finalmente a reportagem dá a palavra aos psicanalistas, que explicarão: relação anaclítica, Mauro Hegenberg, sem querer ser politicamente incorreto. Insaciabilidade e voyeurismo constituiria o casal, sendo o único limite, a menstruação. Sueli Gevertz. Ruth oferece de graça aquilo que a sociedade de consumo cobra, diz Jacob Pinheiro Goldberg. Ruth tem uma compulsão, conclui Luiz Alberto Hans. E postula uma contabilidade que para mim soa estranha: transar com cinco é uma coisa, já com 30 é outra. (?)
Os psicanalistas também gostamos muito de falar e às vezes beiramos pelas bordas de certo exibicionismo. Quiçá seja porque o dispositivo nos obrigue a permanecer tanto tempo em silêncio. Todavia, neste caso, Ruth não quer saber (não demandou nenhuma explicação, pois ela “sabe” gozar) e é provável até que se divirta com os disseres dos peritos. Porque, para Ruth (a despeito de Lacan) a Relação Sexual existe! E é nessa tão estranha contabilidade incompreendida por Hans – para ela, certamente, um pequeno Hans – que ambos (ela e seu marido) realizam em Áurea Proporção, o encontro com o Número de Ouro da substância gozante: o objeto “a”. E a perspectiva da Castração apenas acena marcada numa existência temporal (futura) que será postergada enquanto a bundinha e os peitinhos permanecerem duros. Ou seja, enquanto possa se manter – dentro de uma lógica masculina – a Idade Viril.
Eu desconfio que seja dentro desta lógica que assim caminhe a humanidade globalizada. E que esta represente a tal corrida contra o tempo proposta pelo capitalismo tardio, pós-modernidade, globalização, neoliberalismo, para todos os proletários, atuada por Ruth36 às quintas feiras num jogo incessante de repetição que não resulta tão estranho se nós levarmos em consideração a parte que nos cabe neste latifúndio da existência contemporânea. Como define Bauman, tão líquida. Tanto, que escorre pelo vão de nossos dedos entrelaçados. Afinal, embora ainda não fôssemos capazes de inventar algum novo discurso eficaz sobre o amor, já tornamos a enobrecer a pulsão, como os antigos, mas quiçá só gozemos degradando o objeto. 

Itaquaciara, 16 de novembro de 2013

Arnaldo Domínguez de Oliveira é Psicanalista e Professor do CEP - Centro de Estudos Psicanalíticos, fundador do PROJETO ETCÉTERA E TAL... Psicanálise e Sociedade, conselheiro da Biblioteca Popular de Itaquaciara D.Nélida e médico de formação.

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