sábado, 3 de março de 2012

Escola do Riso

do diretor Warai No Daigaku (2004)
por  Karin de Paula

Filme longo, no qual praticamente tudo se passa numa sala com apenas uma mesa, duas cadeiras, dois  personagens   – um escritor de peças de teatro e um censor – e diálogos em japonês ...

Tratava-se, ao vivo e em cores de uma experiência de Escola!

Escola pode se referir a uma instituição de ensino, mas também e anteriormente, a uma corrente de pensamento com características padronizadas que formam certas áreas de conhecimento e da produção humana. A palavra vem do grego scholé, que significa lugar de ócio. Na Grécia Antiga, as pessoas que dispunham de condições sócio-econômicas e tempo livre, nela se reuniam para pensar e refletir.

Aqui temos que decidir o que seria “ter condições”...  Talvez, nós tenhamos condições...rsrsrs...embora não tenhamos nem tanto dinheiro, nem tanto tempo livre...

Bem, de qualquer forma, este primor de filme, nos brinda com a efetiva questão sobre o que pode ser “ter condições”...

Se assistiram ou caso venham a assistir este filme, notem que nosso personagem principal, escritor da Escola do Riso, contava com pouco. Para dizer pouco, poucas chances frente a um censor tão severo quanto pouco cultivado.

Sem subestimar a importância do contexto político, isto é, ao plano do estado-histórico, me parece justo em relação a esta obra, considerar que a pauta é mais menos. E, em sendo menos, mais; isto é, se considerarmos a idéia de que seja abordar o campo sócio-histórico-cultural como fruto da ordinária participação da cada um que lá se encontra como válida.

Pois bem, nosso personagem se encontra lá. É disso que se trata e faz-se diferença frente ao macro... Paulatinamente, somos levados como espectadores a perceber a dimensão e a potência da miudeza dos gestos que habitualmente não são considerados como de exercício de subversão, ao contrário, são antes tomados como sendo de submissão. Para o bem e para o mal, na verdade o que sub-verte, para quem puder reconhecer e pagar o preço, que é algumas vezes caro, lhe será exigido a sustentação de algo e isto se faz na miudeza.

Caro é justo quando querido. Caro é uma exorbitância quando sem sentido e lastro. Caro é nada quando zero é o vazio. O fato é que sempre há preços a pagar. Não há como escapar.

Pouco a pouco, vemos um censor subvertido, seduzido, desviado em sua surdez, cegueira e palavras carimbadas. Não pode haver nada mais revolucionário...

Um de nossos personagens, o protagonista, é discretamente vigoroso; o outro, sedento como Bacco. Uma chance? Uma aposta? Um risco? Sim, sim e sim.

Cá estamos, neste contexto enxuto, justo, pois apertado e, subitamente, rico.

E vemos o rio correr, a pedra furar, as imagens não poderem se sustentar paradas.

Potência humana, não por se tratar de humanismo ou das idealizações, mas da condição falha, manca, limitada e tão suficientemente potente.

Para mim, este filme é sobre esta potência. Na verdade, a potência da potência... Nem onipotência, nem impotência, mas potência suficiente, o que seria a parte que cabe a cada um.

De qualquer forma, não pretende ser uma resposta, mas uma questão...

Karin de Paula é Psicanalista, Mestre e Doutora pela PUC-SP,  Pós-doutoranda na Paris 7, professora na universidade e em curso de formação de psicanalistas. Membro fundadora do umLugar – Psicanálise e Transmissão. Autora dos livros $em – sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise”, Ed. Casa do Psicólogo e Do espírito da coisa - um cálculo de graça”, Ed. Escuta.

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